Mostrando postagens com marcador Traduções. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Traduções. Mostrar todas as postagens

sábado, 14 de julho de 2018

Nada

Townes Van Zandt

Ei gata, quando você for embora
Não deixe nada para trás
Eu não quero nada
Não posso usar nada

Tome cuidado no salão
E se vir meus amigos
Diga e eles que estou bem
Não usando nada

Quase queimei meus olhos
Queimei meus ouvidos no chão
Eu não vi nada
Eu não ouvi nada

Fiquei lá como um bloco de pedra
Sabendo tudo o que deveria saber
E nada mais
Cara, isso não é nada

Como irmãos, nossos problemas estão
Trancados nos braços um do outro
E melhor rezar
Para que eles nunca te encontrem

Suas costas não são fortes o suficiente
Para cargas dobradas
Eles te esmagariam
Até não sobrar nada

Nascer é ficar cego
E curvar-se umas mil vezes
O eco fica preso
Em pura tentação

Tristeza e solidão
Estas são as coisas preciosas
E as únicas palavras
Que valem a pena lembrar



Nothin'
Townes Van Zandt

Hey mama, when you leave
Don't leave a thing behind
I don't want nothin'
I can't use nothin'

Take care into the hall
And if you see my friends
Tell them I'm fine
Not using nothin'

Almost burned out my eyes
Threw my ears down to the floor
I didn't see nothin'
I didn't hear nothin'

I stood there like a block of stone
Knowin' all I had to know
And nothin' more
Man, that's nothin'

As brothers our troubles are
Locked in each others arms
And you better pray
They never find you

Your back ain't strong enough
For burdens double fold
They'd crush you down
Down into nothin'

Being born is going blind
And bowing down a thousand times
The echo strung
On pure temptation

Sorrow and solitude
These are the precious things
And the only words
That are worth rememberin'

terça-feira, 7 de outubro de 2014

O andarilho - Segunda versão

Georg Trakl

SEMPRE se apoia na colina a noite branca,
onde se eleva o álamo, em música prateada,
há estrelas e pedras.

Sonolenta, arqueia-se sobre o rio a pequena ponte,
um rosto morto persegue o menino,
meia lua no vale rosa

e, ao longe, pastores agradecem. Do pedregoso leito
avista com seus olhos cristalinos o sapo,
ergue-se, do vento florido, a voz de pássaro do que se assemelha a um morto
e os passos verdejam lentos no bosque.

E isto recorda ao animal e à árvore. Lentas escadas de musgo;
e a Lua,
esplêndida, cujo brilho se afunda na lagoa melancólica.

Ele regressa e vaga pelas verdes costas,
equilibra-se numa gôndola negra pela cidade em ruínas.


DER WANDERER 2. Fassung 
IMMER lehnt am Hügel die weiße Nacht,
Wo in Silbertönen die Pappel ragt,
Stern' und Steine sind.

Schlafend wölbt sich über den Gießbach der Steg,
Folgt dem Knaben ein erstorbenes Antlitz,
Sichelmond in rosiger Schlucht

Ferne preisenden Hirten. In altem Gestein
Schaut aus kristallenen Augen die Kröte,
Erwacht der blühende Wind, die Vogelstimme des Totengleichen
Und die Schritte ergrünen leise im Wald.

Dieses erinnert an Baum und Tier. Langsame Stufen von Moos;
Und der Mond,
Der glänzend in traurigen Wassern versinkt.

Jener kehrt wieder und wandelt an grünem Gestade,
Schaukelt auf schwarzem Gondelschiffchen durch die verfallene Stadt.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Del amor navegante

Leopoldo Marechal

Porque no está el Amado en el Amante
Ni el Amante reposa en el Amado,
Tiende Amor su velamen castigado
Y afronta el ceño de la mar tonante.

Llora el Amor en su navío errante
Y a la tormenta libra su cuidado,
Porque son dos: Amante desterrado
Y Amado con perfil de navegante.

Si fuesen uno, Amor, no existiría
Ni llanto ni bajel ni lejanía,
Sino la beatitud de la azucena.

¡Oh amor sin remo, en la Unidad gozosa!
¡Oh círculo apretado de la rosa!
Con el número Dos nace la pena.



Do amor navegante

Porque não está o Amado no Amante
Nem o Amante repousa no Amado,
Estende o Amor suas velas castigadas
E afronta a face do mar trovejante.

Chora o Amor em seu navio errante
E à tormenta livra seu cuidado,
Porque são dois: Amante desterrado
E Amado com perfil de navegante.

Se fossem um, Amor, não existiria
Nem pranto nem navio nem distância
Apenas a beatitude da açucena.

Ó amor sem remo, na Unidade gozosa!
Ó círculo apertado da rosa!
Com o número Dois nasce a pena. 

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Final Del Año

Jorge Luís Borges

Ni el pormenor simbólico
de reemplazar un tres por un dos
ni esa metáfora baldía
que convoca un lapso que muere y otro que surge
ni el cumplimiento de un proceso astronómico
aturden y socavan
la altiplanicie de esta noche
y nos obligan a esperar
las doce irreparables campanadas.
La causa verdadera
es la sospecha general y borrosa
del enigma del Tiempo;
es el asombro ante el milagro
de que a despecho de infinitos azares,
de que a despecho de que somos
las gotas del río de Heráclito,
perdure algo en nosotros:
inmóvil.

Final do ano

Nem o pormenor simbólico
de substituir um dois por um três
nem essa metáfora baldia
que convoca um lapso que morre e outro que surge
nem o cumprimento de um processo astronômico
aturdem e minam
o planalto desta noite
e nos obrigam a esperar
as doze irreparáveis badaladas.
A causa verdadeira
é a suspeita geral e apagadora
do enigma do Tempo;
é o assombro ante o milagre
de que a despeito de infinitos azares,
de que a despeito de que somos
as gotas do rio Heráclito,
perdure algo em nós:
imóvel.                 

domingo, 16 de setembro de 2012

For my father


Paul Potts

I  think a time will come when you will understand
That I wass forced to try and fly and learn to sing
And the because I fell, echoless, between dark rocks
Is of itself no proof that if I had not run away
I would have grown strong and added to
The long tradition of you and your quiet sires.
Remember too, that this emigrating is of itself
Part of your own long silent heritage.
Else, how sir, did you come to be American?


Acho que chegará o momento em que você vai entender
que fui forçado a tentar e voar e a aprender a cantar
e porque caí, sem eco, entre rochas escuras
não é por si prova de que se eu não tivesse fugido
teria crescido forte e contribuído para
a sua longa tradição e aos seus discretos progenitores.
Lembre-se, também, de que esta emigração é ela mesma
parte de sua longa herança.
De que outro modo, então, o senhor chegou a ser americano?



Paul Potts. Poeta inglês (1911-1990).  Confira uma belíssima tradução ao espanhol em "La Biblioteca de Marcelo Leites"

terça-feira, 3 de julho de 2012

Poderoso cavalheiro é Dom Dinheiro


Francisco de Quevedo

Mãe, eu ao ouro me humilho,
ele é meu amante e meu amado,
e, de tão enamorado,
de contínuo anda amarelado;
e em fortunas ou trocados,
faz tudo quanto quero,
poderoso cavalheiro
é dom Dinheiro.


Nasce nas Índias honrado,
onde o mundo o acompanha;
vem morrer na Espanha,
e é em Gênova enterrado.
e ademais, quem o tem a seu lado
é formoso, embora seja feio,
poderoso cavalheiro
é dom Dinheiro.


É galã e é como um ouro;
tem quebrada a cor,
pessoa de grande valor,
tão cristão quanto mouro;
pois dá e quita o decoro
e quebranta qualquer foro,
poderoso cavalheiro
é dom Dinheiro.


São seus pais principais
e é de nobres, descendente
porque nas veias do Oriente
todos os sangues são Reais.
e, portanto, é quem torna iguais
ao rico e ao pedinte,
poderoso cavalheiro
é dom Dinheiro.


E quem não se encanta
de ver em sua glória, sem taxa,
o que é o pior de sua casa
dona Blanca de Castilla?
Mas eis que sua força humilha
ao covarde e ao guerreiro,
poderoso cavalheiro
é dom Dinheiro.


Seus escudos de armas nobres
são sempre tão principais,
que sem seus escudos reais
não há escudos de armas duplas;
e pois às mesmas duras
da cobiça seu mineiro,
poderoso cavalheiro
é dom Dinheiro.


Por importar nos tratos
e dar tão bons conselhos
nas casas dos velhos
gatos lhe guardam de gatos;
e assim ele rompe recatos
e abranda ao juiz mais severo,
poderoso cavalheiro
é dom Dinheiro.


É tanta sua majestade,
que, embora sejam seus duelos fartos,
ele, ainda tendo esquartejado
não perde sua qualidade.
mas, com certeza, dá autoridade
ao camponês e ao jornaleiro,
poderoso cavalheiro
é dom Dinheiro.


Nunca vi damas ingratas
ao seu gosto e afeição,
que às caras com um dobrão
fazem suas caras baratas;
e assim faz as bravatas
de uma bolsa de couro,
poderoso cavalheiro
é dom Dinheiro.


Mais valem em qualquer terra
(vejam se não é realmente sagaz)
seus escudos na paz,
que escudos na guerra;
pois ao nativo desterra
e faz nativo o forasteiro.
poderoso cavalheiro
é dom Dinheiro.

Poderoso caballero es don DineroFrancisco de Quevedo
Madre, yo al oro me humillo,
él es mi amante y mi amado,
pues de puro enamorado
de continuo anda amarillo;
que pues, doblón o sencillo,
hace todo cuanto quiero,
poderoso caballero
es don Dinero.
Nace en las Indias honrado
donde el mundo le acompaña;
viene a morir en España
y es en Génova enterrado;
y pues quien le trae al lado
es hermoso aunque sea fiero,
poderoso caballero
es don Dinero.
Es galán y es como un oro;
tiene quebrado el color,
persona de gran valor,
tan cristiano como moro;
pues que da y quita el decoro
y quebranta cualquier fuero,
poderoso caballero
es don Dinero. 
Son sus padres principales,
y es de noble descendiente,
porque en las venas de oriente
todas las sangres son reales;
y pues es quien hace iguales
al duque y al ganadero,
poderoso caballero
es don Dinero.
Mas ¿a quién no maravilla
ver en su gloria sin tasa
que es lo menos de su casa
doña Blanca de Castilla?
Pero pues da al bajo silla,
y al cobarde hace guerrero,
poderoso caballero
es don Dinero. 
Sus escudos de armas nobles
son siempre tan principales,
que sin sus escudos reales
no hay escudos de armas dobles;
y pues a los mismos robles
da codicia su minero,
poderoso caballero
es don Dinero. 
Por importar en los tratos
y dar tan buenos consejos,
en las casas de los viejos
gatos le guardan de gatos;
y pues él rompe recatos
y ablanda al jüez más severo,
poderoso caballero
es don Dinero.
Y es tanta su majestad,
aunque son sus duelos hartos,
que con haberle hecho cuartos,
no pierde su autoridad;
pero, pues da calidad
al noble y al pordiosero,
poderoso caballero
es don Dinero.
Nunca vi damas ingratas
a su gusto y afición,
que a las caras de un doblón
hacen sus caras baratas;
y pues hace las bravatas
desde una bolsa de cuero,
poderoso caballero
es don Dinero.
Más valen en cualquier tierra
mirad si es harto sagaz,
sus escudos en la paz,
que rodelas en la guerra;
y pues al pobre le entierra
y hace propio al forastero,
poderoso caballero
es don Dinero.

domingo, 24 de junho de 2012

A chuva


Jorge Luis Borges

Bruscamente tem a tarde se iluminado
Porque já cai a chuva minuciosa.
Cai ou caiu. A chuva é uma coisa
que sem dúvidas acontece no passado.

Quem a ouve cair, terá recordado
o tempo em que a sorte venturosa
lhe revelou uma flor chamada rosa
e a curiosa cor do avermelhado.

Esta chuva que cega os cristais
Alegrará em perdidos confins
as negras uvas de uma parreira em certo
pátio que já não existe. A molhada
tarde me traz a voz, a voz desejada,
de meu pai que volta e que não está morto.

La Lluvia
Jorge Luis Borges
Bruscamente la tarde se ha aclarado
porque ya cae la lluvia minuciosa.
Cae o cayó. La lluvia es una cosa
que sin duda sucede en el pasado.
Quien la oye caer ha recobrado
el tiempo en que la suerte venturosa
le reveló una flor llamada rosa
y el curioso color del colorado.
Esta lluvia que ciega los cristales
alegrará en perdidos arrabales
las negras uvas de una parra en cierto
patio que ya no existe. La mojada
tarde me trae la voz, la voz deseada,
de mi padre que vuelve y que no ha muerto
. 
Jorge Luis Borges, In: “El hacedor”, 1960.

domingo, 6 de maio de 2012

Eu fui


Luis Cernuda

Eu fui.
Coluna ardente, lua de primavera.
Mar dourado, olhos grandes.

Busquei o que pensava;
pensei, com o amanhecer em solo lânguido,
o que pinta o desejo em dias adolescentes.
Cantei, subi,
fui luz um dia
arrastado na chama.

Como um golpe de vento
que desfaz a sombra,
caí no negro,
num mundo insaciável.

Tenho sido.


Yo fui... 

Yo fui.
Columna ardiente, luna de primavera.
Mar dorado, ojos grandes.
Busqué lo que pensaba;
pensé, como al amanecer en sueño lánguido,
lo que pinta el deseo en días adolescentes.
Canté, subí,
fui luz un día
arrastrado en la llama.
Como un golpe de viento
que deshace la sombra,
caí en lo negro,
en el mundo insaciable.
He sido.

sábado, 1 de outubro de 2011

El verano

Juana de Ibarbourou



Estaba tan absorta frente al mundo
que no sentí como volaba el tiempo
siempre adelante con sus duras garras
cargadas de sucesos y momentos,
halcón imperturbable, me llevaba
también a mí, la joven e inocente.
Y quise detenerme, mas no pude
se me filtra en la oscura cabellera
la escarcha de los fríos inclementes,
esclava de sus pasos siempre anduve
en busca del verano que es mi patria
como no puedo hallarle me he sentado
a llorar. Ya no soy sino una apátrida.

Estava tão absorta diante do mundo
Que não senti como voava o tempo
Sempre adiante com suas duras garras
Carregadas de sucessos e momentos,
Falcão imperturbável me levava
Também a mim, a jovem e inocente.
E quis me deter, mas não pude
A escura cabeleira me filtra
A geada dos frios inclementes,
Escrava de seus passos sempre andei
Em busca do verão que é minha pátria
Como não posso encontra-lo me pus
A chorar. Já não sou senão uma apátrida.

domingo, 18 de setembro de 2011

Botella al mar

Botella al mar
Mario Benedetti

El mar un azar
Vicente Huidobro

Pongo estos seis versos en mi botella al mar
con el secreto designio de que algún día
llegue a una playa casi desierta
y un niño la encuentre y la destape
y en lugar de versos extraiga piedritas
y socorros y alertas y caracoles.


Garrafa ao mar
Mario Benedetti

O mar um azar
Vicente Huidobro

Coloco estes seis versos em minha garrafa ao mar
com o secreto desígnio de que algum dia
chegue a uma praia quase deserta
e um menino a encontre e a destampe
e no lugar de versos extraia pedrinhas
e socorros e alertas e caracóis.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Poética

Cesare Pavese

O menino se dá conta de que a árvore é viva.
Se as tenras folhas se abrem a força
uma luz, rompendo impiedosa, a dura casca
deve sofrer muito. Apenas vive em silencio.
Todo o mundo é coberto de plantas que sofrem
na luz, e não se ouve sequem um suspiro.
É uma luz tenra. O menino não sabe
de onde vem, já é tarde; mas cada tronco revela
sobre um fundo mágico. Após um momento é escuro.

O menino – alguém permanece menino
muito tempo – que tinha medo do escuro,
vai pela rua e não presta atenção às casas escurecidas
no crepúsculo. Curva a cabeça à escuta
de uma lembrança remota. Nas ruas desertas
como praças, acumula-se um grave silêncio.
O caminhante poderia estar apenas num bosque,
onde as árvores fossem enormes. A luz
com um arrepio corre os lampiões. As casas
deslumbradas transpiram no vapor azul claro,
e o menino levanta os olhos. Aquele silêncio remoto
que prendia a respiração do caminhante, floresce
na luz súbita. São as árvores antigas
do menino. E a luz é o encanto de outrora.

E alguém, no diáfano circulo, começa
a passar em silencio. Pela rua ninguém
jamais revela a pena que morde a vida.
Andam rápido, cada um como que absorto em seu passo,
e grandes sombras ondulam. Têm as faces enrugadas
e as olheiras dolentes, mas nenhum se lamenta.
Todas as noites, na luz azul clara,
vão como num bosque, entre as casas infinitas.


Poetica
Cesare Pavese

Il ragazzo s'è accorto che l'albero vive.
Se le tenere foglie si schiudono a forza
una luce, rompendo spietate, la dura corteccia
deve troppo soffrire. Pure vive in silenzio.
Tutto il mondo è coperto di piante che soffrono
nella luce, e non s'ode nemmeno un sospiro.
E' una tenera luce. Il ragazzo non sa
donde venga, è già sera; ma ogni tronco rileva
sopra un magico fondo. Dopo un attimo è buio.

Il ragazzo - qualcuno rimane ragazzo
troppo tempo - che aveva paura dei buio,
va per strada e non bada alle case imbrunite
nel crepuscolo. Piega la testa in ascolto
di un ricordo remoto. Nelle strade deserte
come piazze, s'accumula un grave silenzio.
Il passante potrebbe esser solo in un bosco,
dove gli alberi fossero enormi. La luce
con un brivido corre i lampioni. Le case
abbagliate traspaiono nel vapore azzurrino,
e il ragazzo alza gli occhi. Quel silenzio remoto
che stringeva il respiro al passante, è fiorito
nella luce improvvisa. Sono gli alberi antichi
del ragazzo. E la luce è l'incanto d'allora.

E comincia, nel diafano cerchio, qualcuno
a passare in silenzio. Per la strada nessuno
mai rivela la pena che gli morde la vita.
Vanno svelti, ciascuno come assorto nel passo,
e grandi ombre barcollano. Hanno visi solcati
e le occhiaie dolenti, ma nessuno si lagna.
Tutta quanta la notte, nella luce azzurrina,
vanno come in un bosco, tra le case infinite.

sábado, 21 de junho de 2008

Hora severa

Rainer Maria Rilke

Quem agora chora em algum lugar no mundo,
sem motivo chora no mundo,
chora por mim.

Quem agora ri em algum lugar na noite,
sem motivo ri na noite,
se ri de mim.

Quem agora caminha em algum lugar no mundo,
sem motivo caminha no mundo:
caminha até mim.

Quem agora morre em algum lugar no mundo,
sem motivo morre no mundo,
olha para mim.


Ernste Stunde
Rainer Maria Rilke

Wer jetzt weint irgendwo in der Welt,
ohne Grund weint in der Welt,
weint über mich.

Wer jetzt lacht irgendwo in der Nacht,
ohne Grund lacht in der Nacht,
lacht mich aus.

Wer jetzt geht irgendwo in der Welt,
ohne Grund geht in der Welt,
geht zu mir.

Wer jetzt stirbt irgendwo in der Welt,
ohne Grund stirbt in der Welt:
sieht mich an.

Rainer Maria Rilke, Mitte Oktober 1900, Berlin-Schmargendorf

domingo, 15 de junho de 2008

O momento da criação poética

Bob Dylan em trecho do filme "No direction home", Martin Scorsese.



I'm looking for a place that will "collect, clip, bath," and return my dog, KN1-7727, cigarettes and tobacco. Animals and birds bought or sold on commission.

I want a dog that's gonna collect and clean my bath, return my cigarette and give tobacco to my animals and then give my birds a commission.

I'm looking for somebody to sell my dog, collect my clip, buy my animal, and straighten out my bird.

I'm looking for a place to bathe my bird, buy my dog, collect my clip, sell me cigarettes and commission my bath.

I'm looking for a place that's going to collect my commission, sell my dog, burn my bird, and sell me to the cigarette.

Going to bird my buy, collect my will, and bathe my commission.

I'm looking for a place that's going to animal my soul, knit my return, bathe my foot, and collect my dog. Commission me to sell my animals, to the bird to clip and buy my bath and return me back to the cigarettes.

Procuro um lugar que "arrume, corte o pêlo, dê banho" e devolva meu cachorro, KN1-7727. Cigarros e tabaco. "Vendemos e compramos pássaros em comissão."

Eu quero um cachorro que arrume e limpe meu banheiro e devolva meu cigarro dê tabaco aos meus animais e aí dê uma comissão aos meus pássaros.

Procuro alguém que venda meu cachorro corte meu cabelo, compre meu animal e enderece ao meu pássaro.

Procuro um lugar que dê banho no meu pássaro compre meu cachorro, corte meu cabelo me venda cigarros e dê comissão ao meu banho.

Procuro um lugar que recolha minha comissão, venda meu cachorro, queime meu pássaro e me venda ao cigarro.

Vou passarear minha compra, pegar meu desejo, e dar banho na minha comissão.

Procuro um lugar que animalize minha alma, enlace meu retorno, lave meu pé e arrume meu cachorro. Me dê uma comissão por vender meus animais, ao pássaro por cortar e comprar meu banho e me devolver aos cigarros.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

La speranza

Cesare Pavese

Verrà la morte e avrà i tuoi occhi
questa morte che ci accompagna
dal mattino alla sera, insonne, sorda,
come un vecchio rimorso o un vizio assurdo.

I tuoi occhi saranno una vana parola,
un grido taciuto, un silenzio.
Cosi li vedi ogni mattina
quando su te sola ti pieghi nello specchio.

O cara speranza,
quel giorno sapremo anche noi
che sei la vita e sei il nulla..

..per tutti la morte ha uno sguardo.
Verrà la morte e avrà i tuoi occhi.

Sarà come smettere un vizio,
come vedere nello specchio,
riemergere un viso morto,
come ascoltare un labbro chiuso.
Scenderemo nel gorgo muti.

A esperança
Cesare Pavese

Virá a morte e ela terá os teus olhos
esta morte que nos acompanha
da manhã até a noite, insone, surda,
como um velho remorso ou um vício absurdo.

Os teus olhos serão uma vã palavra,
um grito não dado, um silencio.
Assim os vê cada manhã
quando sobre ti sozinha te inclinas no espelho.

Ó cara esperança,
aquele dia saberemos também nós
que és a vida e és o nada...

...para todos a morte tem um olhar.
Virá a morte e ela terá os teus olhos.

Será como parar um vício,
como ver no espelho,
re-emergir uma figura morta,
como escutar um lábio fechado.
Desceremos no redemoinho mudos.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Sterne und Träume

Markus Bomhard

Sterne und Träume
Weißt Du noch,
wie ich Dir die Sterne vom Himmel
holen wollte,
um uns einen Traum zu erfüllen?
Aber
Du meintest,
sie hingen viel zu hoch ...!
Gestern
streckte ich mich zufällig
dem Himmel entgegen,
und ein Stern fiel
in meine Hand hinein.
Er war noch warm
und zeigte mir,
daß Träume vielleicht nicht sofort
in Erfüllung gehen;
aber irgendwann ...?!

Estrelas e sonhos
Markus Bomhard

Estrelas e sonhos
Ainda se lembra,
de quando eu quis buscar as estrelas do céu
para você,
para nos realizar um sonho?

Mas,
você achava,
que elas estavam muito altas ...!
Ontem
espreguicei-me, sem intenção,
em direção ao céu
e uma estrela caiu
na palma da minha mão.
Ainda estava quente
e me mostrou
que talvez os sonhos não
se realizem de imediato;
mas algum dia ...?!

domingo, 18 de novembro de 2007

Einmal nahm ich

Rainer Maria Rilke

Einmal nahm ich zwischen meine Hände
dein Gesicht. Der Mond fiel darauf ein.
Unbegreiflichster der Gegenstände
unter überfließendem Gewein.

Wie ein williges, das still besteht,
beinah war es wie ein Ding zu halten.
Und doch war kein Wesen in der kalten
Nacht, das mir unendlicher entgeht.

O da strömen wir zu diesen Stellen,
drängen in die kleine Oberfläche
alle Wellen unsres Herzens,
Lust und Schwäche,
und wem halten wir sie schließlich hin?

Ach dem Fremden, der uns missverstanden,
ach dem andern, den wir niemals fanden,
denen Knechten, die uns banden,
Frühlingswinden, die damit entschwanden,
und der Stille, der Verliererin


Uma vez tomei
Rainer Maria Rilke

Uma vez tomei entre minhas mãos
teu rosto. Sobre ele caia a lua.
O mais fantástico dos objetos
submerso em pranto.

Como algo dócil, que existe em silêncio,
contê-lo era quase como que um ardil.
E, ainda assim, não havia o que na
fria noite mais infinitamente me escapava.

Oh, porque desembocamos nestes lugares,
represando na pequena superfície
todas as ondas de nossos corações,
prazer e fraqueza,
e a quem ofereceremos tudo ao final?

Ah, aos estranhos, que nos mal entenderam,
ah, aos outros, que jamais encontramos,
aos servos, que nos ataram,
aos ventos de primavera, que se desvaneceram,
e ao sossego, o perdedor.

sábado, 10 de novembro de 2007

A dream

Edgar Allan Poe

In visions of the dark night
I have dreamed of joy departed--
But a waking dream of life and light
Hath left me broken-hearted.

Ah! what is not a dream by day
To him whose eyes are cast
On things around him with a ray
Turned back upon the past?

That holy dream--that holy dream,
While all the world were chiding,
Hath cheered me as a lovely beam
A lonely spirit guiding.

What though that light, thro' storm and night,
So trembled from afar--
What could there be more purely bright
In Truth's day-star?

Um sonho
Edgar Allan Poe

Em visões da noite sombria
Sonhei uma alegria partida –
Mas um sonho acordado de vida e alegria
Deixou em meu coração uma ferida.

Ah! O que não é um sonho diurno
Para aquele cujo olhar arremessa
Em coisas ao seu redor como um raio
Que ao passado regressa?

Que sonho sagrado – que sonho sagrado,
Enquanto o mundo só reprovação via,
Encorajava-me como um raio amado
Um solitário espírito guia.

O que através daquela luz, através da noite e da tempestade,
Tão trêmula lá distante –
O que poderia ser mais puramente brilhante
Na diurna estrela da verdade?

domingo, 7 de outubro de 2007

Lösch mir die Augen aus

Rainer Maria Rilke

Lösch mir die Augen aus: ich kann dich sehen.
Wirf mir die Ohren zu: ich kann dich hören.
Und ohne Füße kann ich zu dir gehen.
Und ohne Mund noch kann ich dich beschwören.
Brich mir die Arme ab, ich fasse dich mit meinem Herzen,
Wie mit einer Hand.
Halt mir das Herz zu, und mein Hirn wir schlagen.
Und wirst du in mein Hirn den Brand,
so werd' ich dich auf meinem Blute tragen.

Apaga-me os olhos

Apaga-me os olhos: eu poderei te ver.
Tapa-me os ouvidos: eu poderei te ouvir.
E sem pés poderei até a ti chegar.
E sem boca ainda poderei te invocar.
Rompa-me os braços, eu te abraçarei com meu coração,
assim como com uma mão.
Pára meu coração, e meu cérebro pulsará.
E se tu incendeias meu cérebro,
levar-te-ei em meu sangue.

sábado, 22 de setembro de 2007

Sono cent'anni

Nazim Hikmet

Sono cent'anni che non ho visto il suo viso
che non ho passato il braccio
attorno alla sua vita
che non mi son fermato nei suoi occhi
che non ho interrogato
la chiarità del suo pensiero
che non ho toccato
il calore del suo ventre

eravamo sullo stesso ramo insieme
eravamo sullo stesso ramo
caduti dallo stesso ramo ci siamo separati

e tra noi il tempo è di cent'anni
di cent'anni la strada
e da cent'anni nella penombra
corro dietro a te.

Cem anos

Faz cem anos que não vejo sua face
que não passo o braço
em torno de sua vida
que não me fixo nos seus olhos
que não interrogo
a claridade do seu pensamento
que não toco
o calor do seu ventre

estávamos juntos no mesmo ramo
estávamos no mesmo ramo
caídos do mesmo ramo estamos separados

e entre nós o tempo é de cem anos
de cem anos a estrada
e há cem anos na penumbra
corro atrás de ti.

Il più bello dei mari

Nazim Hikmet

Il più bello dei mari
è quello che non navigammo.
Il più bello dei nostri figli
non è ancora cresciuto.

I più belli dei nostri giorni
non li abbiamo ancora vissuti.

E quello
che vorrei dirti di più bello
non te l'ho ancora detto.

O mais belo dos mares

O mais belo dos mares
é aquele que não navegamos.
O mais belo dos nossos filhos
ainda não cresceu.

Os mais belos dos nossos dias
ainda não vivemos.

E aquilo
que queria dizer-te de mais belo
ainda não te disse.

À espera dos bárbaros

Constantino Kaváfis (1863-1933)  O que esperamos na ágora reunidos?  É que os bárbaros chegam hoje.  Por que tanta apatia no senado?  Os s...