quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

À espera dos bárbaros

Constantino Kaváfis (1863-1933) 

O que esperamos na ágora reunidos? 

É que os bárbaros chegam hoje. 

Por que tanta apatia no senado? 
Os senadores não legislam mais? 

É que os bárbaros chegam hoje. 
Que leis hão de fazer os senadores? 
Os bárbaros que chegam as farão. 

Por que o imperador se ergueu tão cedo 
e de coroa solene se assentou 
em seu trono, à porta magna da cidade? 

É que os bárbaros chegam hoje. 
O nosso imperador conta saudar
o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe 
um pergaminho no qual estão escritos 
muitos nomes e títulos. 

Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas, 
e pulseiras com grandes ametistas 
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas? 
Por que joje empunham bastões tão preciosos 
de ouro e prata finamente cravejados? 

É que os bárbaros chegam hoje, 
 tais coisas os deslumbram. 

Por que não vêm os dignos oradores 
derramar o seu verbo como sempre? 

É que os bárbaros chegam hoje 
e aborrecem arengas, eloquências. 

Por que subitamente esta inquietude? 
(Que seriedade nas fisionomias!) 
Por que tão rápido as ruas se esvaziam 
e todos voltam para casa preocupados? 
Porque é já noite, os bárbaros não vêm 
e gente recém-chegada das fronteiras 
diz que não há mais bárbaros. 

Sem bárbaros o que será de nós? 
 Ah! Eles eram uma solução. 

Disponível em: https://veja.abril.com.br/coluna/reinaldo/8220-a-espera-dos-barbaros-8221-8211-o-poema/

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