O que esperamos na ágora reunidos?
É que os bárbaros chegam hoje.
Por que
tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?
É que os bárbaros
chegam hoje.
Que leis hão de fazer os senadores?
Os bárbaros que chegam as
farão.
Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em
seu trono, à porta magna da cidade?
É que os bárbaros chegam hoje.
O nosso
imperador conta saudar
o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
um pergaminho no
qual estão escritos
muitos nomes e títulos.
Por que hoje os dois cônsules e os
pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e
anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que joje empunham bastões tão
preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?
É que os bárbaros chegam hoje,
tais coisas os deslumbram.
Por que não vêm os dignos oradores
derramar o seu
verbo como sempre?
É que os bárbaros chegam hoje
e aborrecem arengas, eloquências.
Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas
fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa
preocupados?
Porque é já noite, os bárbaros não vêm
e gente recém-chegada das
fronteiras
diz que não há mais bárbaros.
Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! Eles eram uma solução.
Disponível em:
https://veja.abril.com.br/coluna/reinaldo/8220-a-espera-dos-barbaros-8221-8211-o-poema/
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