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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Insônia

MLO*
“O que vejo, o que sou e suponho será apenas um sonho num sonho?”
--- Edgar Allan Poe

Quando se sofre de insônia, uma das melhores coisas para se fazer de madrugada é escrever. Ficar plugado no computador, por horas, digitando idéias até que o sono finalmente chegue. Isso geralmente é um problema, mas às vezes até que vem a calhar. É o final do semestre, e eu aproveito a vigília para terminar o último trabalho de literatura. A luz branda do monitor mal ilumina o ambiente e o silêncio só é quebrado pelo telequeteque do teclado. O frio cortante é amenizado pelo chá quente. Estranhamente, a inspiração está fluindo. Minhas considerações finais são armazenadas no documento – estou prestes a concluir meu texto. O frio aumenta. O chá acaba. O corpo cansado pede socorro para o sono. A mente, pouco ágil, precisa de algo que ajude manter a concentração.
Vou até a cozinha, preparo um café forte e volto para o quarto. A xícara fumegante transborda no pires. Sento-me. Para minha surpresa, na telinha, no lugar de meu texto, amontoam-se palavras incoerentes. Meu coração acelera. Putz! Perdi todo o meu trabalho... Serei obrigado a refazê-lo totalmente... Mas como, se não escrevi nenhum rascunho e fui digitando a medida em que as idéias me vinham à cabeça? Tento mudar a página. Subo a barra, desço a barra. O Word fica na mesma. Noto que as palavras estão organizadas duas a duas e sempre obedecendo ao mesmo padrão: “nunca mais”. Imediatamente passo o antivírus e verifico o firewall. Nada é constatado. Desligo o computador. Será que a condição de insone está me pregando uma peça? Estarei pagando o preço por abusar dos limites do corpo? Afinal, já faz três dias que não durmo direito... Sim, deve ser isso... Quando se tem insônia, nada parece ser real. Você nunca está realmente acordado, mas também nunca está realmente dormindo... Sua mente não consegue focalizar um pensamento, pois sempre há vários – tudo se torna disperso. Além disso, o céu e azul a água é molhada e os computadores travam... Novos vírus surgem todos os dias... Talvez, mais tarde, quando estiver devidamente descansado, eu consiga compreender o que aconteceu e seja capaz de perceber que tudo não passa de uma sucessão comum de causas e efeitos muito naturais. Sim, deve ser isso... Que seja, então... Não posso perder tempo. Tenho que recomeçar... Reinício o computador. Concentro meu pensamento. Com muita dificuldade, consigo refazer os tópicos principais. Os olhos ardem. O corpo dói. O sono finalmente chega. Preciso de mais café... 

Esquento a água.
Coloco o pó.
Adoço.
Bebo.
Pronto: adeus sono!
De volta, olho para o monitor – a tela está repleta de “nunca mais”. Minhas mãos tremem. O café amarga na boca. Engulo em seco. Desesperado, tento aplicar um "Ctrl + Alt + Del" no computador. É inútil, uma mancha preta aparece na tela. As palavras “nunca mais” – agora enormes – dissolvem-se como que se fundindo. A impressora começa a vomitar folhas com manchas pretas. A imagem é tal qual o vulto de um pássaro... De súbito, as caixas acústicas emitem um som horrendo – algo como o piar agudo de um pássaro. Tento desconectar o computador da tomada: está grudada. Corro até o telefone: está mudo. Busco a porta da rua: está trancada. Desespero. Penso em gritar: minha voz não sai. Isso está realmente acontecendo? Estou acordado ou sonhando? O som do vento batendo na janela me tira do torpor. Vou até lá. Puxo a cortina. Não consigo avistar nada lá fora, só a escuridão e nada mais... Um relâmpago corta o céu. O raio clareia a visão. Junto à janela um pássaro negro me espreita. Entro em pânico. Fecho a cortina. Volto-me para o quarto em silêncio. Avanço alguns passos e escuto o ruído compassado de uma respiração. Nesse momento, raios brilhantes de luz caem vividamente sobre um vulto. No mesmo momento, vejo seus olhos amarelos. No instante em que olho, uma espécie de dormência, uma sensação gelada instantaneamente percorre meu corpo. Meu peito ofega, meus joelhos batem, meu organismo inteiro torna-se presa de um horror tão sem motivo quanto irracional. Lutando para respirar, sento-me diante do computador. Terei enlouquecido? Eu enxergara, eu havia visto, sem a menor dúvida que o vulto tinha as feições de alguém conhecido, mas, eu tremia, como se estivesse sofrendo um ataque de malária, tomado pela noção de que não eram. Seria possível que aquilo que eu avistara agora fosse apenas uma alucinação, ou o mero resultado de ter praticado de forma tão habitual e constante a abstinência do sono? O que havia naqueles olhos que me confundia tanto assim? Olhei novamente para ter certeza de que estava acordado. Eu contemplava com os olhos arregalados, enquanto meu cérebro rodava, impulsionado por uma multidão de pensamentos incoerentes. Mas, o vulto não estava mais lá... O silêncio é quebrado por uma voz melancólica que pronuncia as seguintes palavras:
Oh! Que minha juventude foi um permanente devaneio!
Meu espírito não despertou, até que veio
o raio de uma Eternidade que trouxesse a aurora.
Sim! Embora fosse esse longo sonho de aflição perdida,
Era melhor que a realidade gélida
da vida desperta, dos que de coração devem ser,
e ainda têm sido, sobre a amável Terra
um caos de profunda paixão, desde o início da vida. 1 

Abaixo a cabeça e fecho os olhos. Preciso me concentrar e encontrar uma explicação lógica para o que está acontecendo – tenho que descobrir motivos para duvidar da evidência de meus sentidos. Lanço-me imediatamente num vórtice de loucura descuidada e insensata que varre tudo de minha memória, exceto as mais tenras recordações. Como se não bastasse ver vultos, agora escuto vozes... Mais uma vez fecho os olhos e tento me concentrar. O pássaro e o vulto, com seus olhos amarelos, não saem de meu pensamento. Assim como o poema sobre a juventude desperdiçada, e as palavras “nunca mais”...O que isso quer dizer? Tenho que limpar minha mente. Sem motivo aparente, apego-me a recordações de minha infância. Quando criança, eu não fui como os outros, e nunca vi como os outros viam... Eu não podia tirar minhas paixões da mesma fonte que eles... O que despertava meu coração para a alegria tinha outra origem... Assim como era outra a razão de minha tristeza... Tudo o que amei, amei sozinho. E da minha infância, da aurora do discernimento entre bondade e maldade, permanece um mistério: Do riacho ou da fonte; do penhasco vermelho da montanha; do sol que girava ao meu redor em seu tom dourado de outono; Do raio do céu ao passar voando por mim; Do trovão e da tempestade, e da nuvem que tomava a forma (quando o céu calmo era azul) de um demônio ante meus olhos.2

Quando finalmente consigo focalizar minha mente, meu corpo é tomado por uma sensação estranha. Sinto-me leve, como se estivesse flutuando, possuído por uma liberdade até então desconhecida, como se de repente não sentisse mais preocupações... Abro meus olhos e, para minha surpresa, já é dia. Terei imaginado tudo isso? Tudo não passou de um pesadelo? Olho para o monitor, meu trabalho está no ponto em que deixei antes de ir preparar o café pela primeira vez. Respiro aliviado e penso comigo mesmo: “foi um sonho e nada mais...”. Vou ao banheiro, tomo um a demorada ducha fria para ter certeza de que estou realmente acordado. Volto para o quarto. Avisto o monitor: pousado sobre ele está um enorme pássaro preto com brilhantes olhos amarelos e, logo abaixo, as palavras “nunca mais” se acumulam na tela...

1. DREAMS, 
Edgar Allan Poe (A tradução apresentada no conto é livre e bem picareta...) 

Oh! that my young life were a lasting dream!
My spirit not awakening, till the beam
Of an Eternity should bring the morrow.
Yes! tho' that long dream were of hopeless sorrow,
'Twere better than the cold reality
Of waking life, to him whose heart must be,
And hath been still, upon the lovely earth,
A chaos of deep passion, from his birth. 
But should it be- that dream eternally
Continuing- as dreams have been to me
In my young boyhood- should it thus be given,
'Twere folly still to hope for higher Heaven. 
 For I have revell'd, when the sun was bright
I' the summer sky, in dreams of living light
And loveliness,- have left my very heart
In climes of my imagining, apart
From mine own home, with beings that have been
Of mine own thought- what more could I have seen? 
 'Twas once- and only once- and the wild hour
From my remembrance shall not pass- some power
Or spell had bound me- 'twas the chilly wind
Came o'er me in the night, and left behind
Its image on my spirit- or the moon
Shone on my slumbers in her lofty noon
Too coldly- or the stars- howe'er it was
That dream was as that night-wind- let it pass. 
I have been happy, tho' in a dream. 
I have been happy- and I love the theme:
Dreams! in their vivid coloring of life,
As in that fleeting, shadowy, misty strife
Of semblance with reality, which brings
To the delirious eye, more lovely things
Of Paradise and Love- and all our own! 
Than young Hope in his sunniest hour hath known. 

2. ALONE, 
Edgar Allan Poe (A tradução apresentada no conto é livre e bem cara-de-pau...)
From childhood's hour I have not been
As others were--I have not seen
As others saw--I could not bring
My passions from a common spring. From the same source I have not taken
My sorrow; I could not awaken
My heart to joy at the same tone;
And all I lov'd, I lov'd alone. Then--in my childhood--in the dawn
From ev'ry depth of good and ill
The mystery which binds me still:
From the torrent, or the fountain,
From the red cliff of the mountain,
From the sun that 'round me roll'd In its autumn tint of gold--
From the lightning in the sky
As it passed me flying by--
From the thunder and the storm,
And the cloud that took the form
(When the rest Heaven was blue)
Of a demon in my view.

*Texto escrito no já longínquo ano de 2007 e que por qualquer motivo estava nos meus rascunhos esperando ser publicado.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Não estou lá


Tantas faces diversas. Tantas fases diversas. Tantos modos complementares de contar a mesma personalidade artística sem cair na hagiografia, mas também sem perder aquele aspecto de espiada pelo buraco da fechadura, pela qual se podem ver segredos inconfessáveis. Uma teia de tramas coerente e plena de citações nem sempre fáceis de serem decifradas. Todas essas características podem ser aplicadas tanto ao filme “Não estou lá” (I’m not there, EUA, 2007), de Todd Haynes, como ao menestrel Bob Dylan.

O título o filme já dá uma idéia do paradoxo: Bob Dylan não está no filme baseado em... Bob Dylan. Trata-se da tentativa de representar numa experiência emotiva e sensorial a sua trajetória na vida, seus humores e suas canções. Não é sem motivo que no filme há seis personagens a encarná-lo nas diversas fases de sua existência, cada um com um nome diferente, a compor uma espécie de biografia anômala e coral que reflete a alma controversa de um homem inquieto e fragmentado.

Cada avanço ou retrocesso no tempo da narrativa adota um estilo de acordo com as fases/faces de Dylan: multicolorido e esculpido quando o astro egoísta se compraz do dinheiro e do sucesso (e ignora a mulher); psicodélico e burlesco nos momentos de sua imersão na Londres beatlemaníaca; ou mesmo surreal no segmento em que Richard Gere se traveste de Billy the Kid. Embora haja um inevitável envolvimento do expectador, alguns elementos fazem com que o filme, de forma semelhante com o que acontece com a música de Dylan, com que o filme se distancie de um entretenimento com o qual seja fácil a identificação.

Bob Dylan percebeu o quanto era necessário uma evolução artística para ele e soube que não poderia se limitar por aquilo que seus fãs aguardavam ou pediam. E por não ter se comprometido com qualquer filosofia estética específica, tanto por seus fãs ou por seus críticos, tornou-se livre para fazer o que quer que desejasse como artista.

Mais do que tentar apresentar quem foi Bob Dylan, a preocupação maior de Haynes, o diretor, parece ser a de apresentar a recusa de Dylan em se conformar a um padrão – seja a uma única identidade, seja a um modelo pré-estabelecido de gênero musical. O filme, tão enigmático como aquele que o inspirou, parece não se ater a qualquer verdade real ou imaginária, mas ao invés prefere explorar o modo como projetamos nossa própria expectativa sobre aqueles que se colocam diante da opinião pública.

Ao invés de proporcionar apenas uma porção limitada do assunto, instruindo o expectador como prestar atenção e tirar conclusões sobre o que eles acreditam ser o significado de tudo, tanto o filme de Haynes como a obra de Dylan permitem e deixam com que o expectador (ou o ouvinte) decida aquilo que é importante e o que não é.

O andamento irregular, as transições desordenadas, as sobreposições dentro da mesma seqüência, as inserções surrealistas, o simbolismo por trás das críticas e mesmo a trilha sonora fora de ordem cronológica, transportam para o cinema o lirismo, a complexidade, a fragmentação, os saltos lógicos e acima de tudo atestam a relevância de conter nos créditos a informação “letras e músicas de Bob Dylan”.


sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Radiohead, lista dos 5 mais

The Bends, 1995

Se "Pablo Honey" é considerado por alguns uma estréia meio "verde" e indecisa, com apenas uma canção que justifica a aquisição do álbum ("Creep"), "The Bends" marca a virada artística decisiva do grupo e, em particular, de seu instável líder, Thom Yorke. Com canções contemporaneamente evocativas que traduzem perfeitamente a temática do álbum, o segundo trabalho do Radiohead impressiona por suas unidade e qualidade sonora. O som tornou-se muito mais pessoal e facilmente reconhecível, com a extraordinária mistura das três guitarras de O'Brien, Yorke e Jonny Greenwood. Um ótimo exemplo desse novo e invejável rigor estilístico está na fantástica "Fake plastic trees", em que Thom & Cia observam com desgosto as muitas anomalias de uma sociedade supostamente avançada e direcionam sua feroz crítica ao sistema. A elegíaca "Nice dream" e a faixa que empresta nome ao título do disco são denúncias contra o estilo de vida artificial e sujeito aos ditames da moda. Um disco para quem quer ouvir e pensar.

O.K. Computer, 1997

Após três longos anos de espera desde o fantástico "The Bends", a banda retorna com um álbum empolgante e definitivo; uma confirmação extraordinária da genialidade do líder Yorke e inquietante baluarte para os futuros trabalhos do grupo, que a partir de então se torna proprietário de um estilo único. Na verdade, talvez a única pequena imperfeição dessa indiscutível obra de arte é a sua uniformidade, um bloco de melancolia desesperada que arrasta o ouvinte para um interminável vórtice no qual é "masoquísticamente" agradável se perder. "OK computer" é um disco poderosamente original, capaz de misturar elementos de rock progressivo (como o do Pink Floyd) e música eletrônica e experimental (como a do Velvet Underground) e ainda assim obter uma mistura inédita e irresistível, o que pode ser conferido nas já épicas "Paranoid android", "Karma police" e "No surprises". Um manifesto da perplexidade e estranhamento do humano diante da modernidade cada vez mais intrusiva e reificante (não por acaso uma das canções do disco – "Fitler happier" – teoriza como seria uma música interpretada por um computador, totalmente privada de emoções, de sentimentos...). Trata-se, desde o início, de um dos maiores, senão o maior, testemunho artístico do pôr-do-sol (metafórico ou não) da virada do milênio.

Kid A, 2000

Para o Radiohead parece haver uma impossibilidade de ser normal. Após muita espera, várias revisões e contínuos ajustes em estúdio e pesquisa com sons, eis que surge finalmente a criatura: "Kid A". O trabalho é formado quase completamente de sons sombrios, tétricos, indolentes e mesmo aqueles que normalmente são definíveis como canções soam como projetos destinados a assumir outras formas. A primeira audição é angustiante: as linhas clássicas melódicas são praticamente ausentes ou aparecem aqui e ali (como, por exemplo, na faixa de abertura "Everything in its right place" ou na melancólica e linda "How to disappear completely"). Outras vezes, tem-se a impressão de que existe uma tentativa de obter linearidade ("In limbo"), mas, que ela vem expressamente alheia à vontade do grupo, o qual parece disposto a abolir o refrão a todo custo. Ousado e sem precedentes, "Kid A" deixa uma sensação de escassez e secura quase visível e tocável, que pouquíssimos teriam coragem de colocar em cena após um sucesso mundial como "O.K. Computer". "Kid A" talvez seja como uma criança, que nasce sem passado e raízes num cenário de tragédia iminente (quem sabe, talvez a tragédia da modernidade).

Hail To The Thief, 2003

O Radiohead representa, na minha opinião, a encarnação de um sentimento de surpresa e estranhamento; eles são capazes de, a cada novo trabalho, trilhar caminhos diferentes como poucos grupos tiveram coragem de fazer em toda a história da música; capazes de se manter acima de modismos e de dominar com um olhar lúcido e claro a paisagem circundante. A expectativa, na época de lançamento, era de que esse disco sinalizasse um retorno às atmosferas etéreas e rarefeitas de "O.K. Computer", ainda mais após a corajosa publicação dos álbuns gêmeos "Kid A"/"Amnesiac". No entanto, quem esperou por uma reiteração de um discurso prévio ou na repetição de uma fórmula, não encontrou mais que insatisfação. O elemento eletrônico ainda está presente, mas de uma forma muito distinta do dance intelectual de "Kid A". Aqui esse elemento é utilizado na construção de temas quebrados, como na conturbante "Backdrifts", rica em reverberação e sons cósmicos (que remetem, de certa forma, ao som do Kraftwerk) e contornada por ruídos ao fundo que criam de tempo em tempo uma atmosfera fantasmagórica: um conjunto de sinos e teclados que cobrem a canção como um manto. Ainda que a banda não confirme correlação direta, o título do álbum vem de uma frase que acompanhou sarcasticamente a ascensão ao papel de presidente dos EUA de George W. Bush, em 2000, quando ele foi acusado pelos democratas e pela esquerda americana de fraude eleitoral. Essa insatisfação diante desse momento pode ser sentida na faixa de abertura, "2+2=5", em que o descompasso se faz presente já na introdução com uma batida urgente que não se encaixa com o doce dedilhado da guitarra e que em determinado momento se torna uma corrida raivosa e cadenciada pelo canto nervoso de Yorke, num rock quase punk que descarta qualquer hipótese de rima ou refrão. "Hail to the thief" é um álbum excelente, com uma unidade sonora impressionante (embora a sensação rítmica às vezes soe chocante) e constitui a demonstração de uma ética musical que fez da experimentação sua linguagem única: capazes de passar, em dez anos, do pop de "Pablo Honey" à pscodelia de "O.K. Computer" até a definição de um estilo verdadeiro e único. "Hail to the Thief" é mais acessível do que "Kid A", mas não dá para apreciá-lo numa única audição; trata-se de um álbum para ser estudado, entendido, analisado e vivido em todas as suas múltiplas facetas.

In Rainbows, 2007

Pelo tanto que já se falou deste disco desde que foi lançado – palavras ditas e escritas, reais, a respeito de um projeto baseado na virtualidade; afinal este é o primeiro álbum de um grupo importante comercializado inteiramente via Internet – que a discussão sobre o "como" tornou obscuro o debate sobre "o quê", sobre a qualidade intrínseca da música. Agora que a poeira parece ter assentado e após o disco ter sido lançado na forma mais tradicional, é possível analisar a questão musical. Como já se tornou rotina no que diz respeito ao Radiohead, a música continua de altíssima qualidade. Apesar de sempre haver aquela inevitável comparação com os discos anteriores, pode-se dizer que os músicos retornam para mais um trabalho em que demonstram o porquê de formarem uma das bandas mais influentes da música atual. Em todas as dez faixas do disco há um senso de urgência de concretização, de um rock tanto pulsante quanto intelectual, que agrada e impulsiona. Todas as canções se caracterizam pela pesquisa experimental, mas sempre com uma jovialidade que se torna dominante em faixas como "Bodysnatchers", ou insinuante como o toque de harpas em "Weird fishes (Arpeggi!)", ou ainda com a cadência sedutora de "All I need". Os sons são sombrios mas límpidos, a voz é quente, privada daquela espécie de tensão presente, por exemplo, em "Amnesiac". E o melhor de tudo, são canções "rodáveis"/"executáveis", porque já foram pensadas para execução ao vivo, e não como matéria de laboratório aberta a infinitas experimentações. Dessa forma, trata-se de um álbum concreto que, no início, foi vendido de forma imaterial; mais uma bela contradição do Radiohead.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Merda acontece!

Existe um ditado inglês que diz: "Shit happens". Ele é usado sempre que algo ruim acontece e não se pode fazer muita coisa a respeito. Abaixo está uma quase completa lista ideológica e religiosa.

Taoísmo: merda acontece.
Confucionismo: Confúcio diz, “merda acontece”.
Budismo: se merda acontece, não é realmente uma merda.
Budismo Zen: merda é, e não é.
Budismo Zen 2: qual é o som da merda acontecendo?
Hinduismo: esta merda já aconteceu antes.
Islamismo: se merda acontece, é porque é a vontade de Alá.
Islamismo2: se merda acontece, mate a pessoa responsável.
Islamismo3: se merda acontece, a culpa é de Israel.
Catolicismo: se merda acontece, é porque você mereceu.
Protestantismo: deixe que a merda aconteça a outra pessoa.
Presbiterianos: esta merda tinha que acontecer.
Episcopais: não é tão ruim que a merda aconteça, desde que você sirva o vinho certo com ela.
Metodistas: não é tão ruim que a merda aconteça, desde que você sirva suco de uva com ela.
Luteranos: se a merda acontecer, não fale a respeito.
Fundamentalismo: se merda acontecer, você vai para o inferno, a não ser que você nasça novamente. (Amém!)
Fundamentalismo 2: se a merda acontecer para um cristão, está tudo bem.
Fundamentalismo 3: a merda deve renascer.
Judaísmo: por que essa merda acontece sempre com a gente?
Calvinismo: a merda acontece porque a gente não trabalha.
Adventistas do sétimo dia: merda nenhuma acontecerá no sábado.
Criacionismo: Deus fez toda a merda.
Humanismo secular: a merda se desenvolve.
Ciência cristã: quando a merda acontecer, não chame um médico: reze!
Ciência cristã 2: a merda que acontece está apenas em sua mente.
Unitarismo: vamos juntos pensar nessa merda.
Quakers: não briguemos por essa merda.
Utopistas: está merda não fede.
Darwinistas: está merda um dia já foi comida.
Capitalismo: esta é a MINHA merda.
Comunismo: a merda é de todos.
Feminismo: homens são a merda.
Chovinistas: podemos ser uma merda, mas vocês não vivem sem a gente...
Comerciantes: vamos embalar essa merda.
Impressionismo: à distância, a merda parece um jardim.
Idólatra: a merda merece uma estátua de bronze.
Existencialismo: a merda não acontece; a merda É.
Existencialismo 2: o que é merda, afinal?
Estóico: esta merda é boa para mim.
Hedonismo: nada é melhor que uma boa merda acontecendo.
Mórmons: Deus nos enviou esta merda!
Mórmons: esta merda vai acontecer de novo.
Wicca: se não fizer mal a ninguém, deixe que a merda aconteça.
Cientologia: se a merda acontecer, leia a página 157 da “Dianética”.
Testemunhas de Jeová: toc, toc, merda acontece.
Testemunhas de Jeová 2: poderíamos tomar um pouquinho do seu tempo para mostrar um pouco na nossa merda?
Testemunhas de Jeová 3: a merda foi profetizada, apenas os justos e escolhidos sobreviverão.
Hare krishna: merda acontece, rama rama.
Rastafaris: vamos fumar essa merda.
Zoroastrismo: a merda acontece a metade do tempo.
Práticos: lide com a merda um dia por vez.
Agnósticos: a merda pode ter acontecido; ou talvez não.
Agnósticos 2: alguém fez merda?
Agnósticos 3: que merda é essa?
Ateísmo: que merda?
Ateísmo 2: não acredito nessa merda.
Satanismo: ECETNOCA ADREM.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Reformat The Planet


BLIP FESTIVAL: REFORMAT THE PLANET trailer from 2 Player Productions on Vimeo.

Sabe quando você assiste um filme e fica pensando "Putz! Que filme bacana!"? Essa foi a sensação que tive quando vi o filme "Reformat the planet". Trata-se de um dos filmes mais surpreendentes do ano. É um documentário muito bem filmado e tudo gira em torno de música eletrônica (chiptune music ou, ainda, música de chip), games, performers e gameboys!

É difícil imaginar a Nintendo pensando que pessoas poderiam “hackear” seus Gameboys para criar concertos musicais – concertos que seriam inspiração para um documentário e para um gênero musical totalmente novo.

Por uma semana, é possível assistir este filme no site Pitchfork.tv. Ele foi dividido em capítulos e ajustado para que o tempo de loading não seja muito demorado.

Se você cresceu jogando em Nintendo 8 bits ou Gameboy vai se ver batendo o pé ao ritmo da música ao longo de todo o filme. Isso sem falar daquele sentimento – um misto de nostalgia e alegria repentina – que é difícil de explicar, mas que faz brotar um sorriso no canto da boca e dizer: “Putz! Que filme bacana!”.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Radiohead - In Rainbows

Pelo tanto que já se falou deste disco desde que foi lançado – palavras ditas e escritas, reais, a respeito de um projeto baseado na virtualidade; afinal este é o primeiro álbum de um grupo importante comercializado inteiramente via Internet – que a discussão sobre o “como” tornou obscuro o debate sobre “o quê”, sobre a qualidade intrínseca da música.

Agora que a poeira parece ter assentado e após o disco ter sido lançado na forma mais tradicional, é possível analisar a questão musical. Como já se tornou rotina no que diz respeito ao Radiohead, a música continua de altíssima qualidade. Apesar de sempre haver aquela inevitável comparação com os discos anteriores, pode-se dizer que os músicos retornam para mais um trabalho em que demonstram o porquê de formarem uma das bandas mais influentes da música atual. Em todas as dez faixas do disco há um senso de urgência de concretização, de um rock tanto pulsante quanto intelectual, que agrada e impulsiona.

Todas as canções se caracterizam pela pesquisa experimental, mas sempre com uma jovialidade que se torna dominante em faixas como “Bodysnatchers”, ou insinuante como o toque de harpas em “Weird fishes (Arpeggi!)”, ou ainda com a cadência sedutora de “All I need”. Os sons são sombrios mas límpidos, a voz é quente, privada daquela espécie de tensão presente, por exemplo, em Amnesiac.

E o melhor de tudo, são canções “rodáveis”/“executáveis”, porque já foram pensadas para execução ao vivo, e não como matéria de laboratório aberta a infinitas experimentações. Dessa forma, trata-se de um álbum concreto que, no início, foi vendido de forma imaterial; mais uma bela contradição do Radiohead.

sábado, 7 de junho de 2008

Sobre meninos e homens

Hoje quando voltava para casa depois da aula de violão, parei o carro no semáforo e, enquanto esperava, vi algumas crianças. Uns três meninos estavam do lado de fora do portão de uma casa e dentro havia três ou quatro meninas. Se fosse apenas isso, não haveria nada de mais, o que me chamou a atenção foi que os meninos atiravam pedrinhas nas meninas.

Após o choque inicial, parei para tentar entender aquilo e cheguei a conclusão de que essa era a forma, por mais estranha que possa parecer, que eles encontraram para expressar o interesse por elas; um jeito de dizer: “Oi, achei você muito bonita! Quero te conhecer”, no mais grosseiro estilo de um menino de 11 anos (que nesse aspecto, não se distingue muito de suas versões crescidas, talvez apenas pelo tamanho das pedras).

O fato é que aquilo me fez pensar no modo como nos relacionamos com aqueles que gostamos. Por que é tão difícil conversar com outra pessoa de forma sadia e natural? Por que custa tanto se desarmar e se aproximar de quem se gosta/ama para simplesmente dizer de maneira franca aquilo que se sente?

Talvez seja mais fácil responder com pedra a um “saidaquifidaputa” do que enfrentar a incerteza do que poderia advir a um “Oi, meu nome é... queria te conhecer melhor”.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Italian Spiderman

A versão italiana do Homem-Aranha, dos anos 60, finalmente viu a luz do dia. Italian Spiderman começou a ser exibido no YouTube na semana passada, e terá cenas disponibilizadas semanalmente no website e na página do filme no MySpace.


O filme foi produzido entre 1964 e 1968 pela Alrugo Entertainment, do italiano Alfonso Alrugo. O diretor Gianfranco Gatti e o astro Franco Franchetti - nomes mais famosos da produtora - acabaram afundando suas carreiras quando as distribuidoras consideraram o filme "inassistível".

A única cópia do filme estava perdida em um navio cargueiro que afundou em viagem para os EUA. Segundo os últimos desejos de Alfonso Alrugo, seus netos Vivaldi e Verdi fizeram uma expedição submarina que reencontrou os rolos. É esta versão, remasterizada, que chega agora à Internet.




Fantástico, né? Pois é tudo uma grande piada da Alrugo Entertainment - na verdade, uma produtora montada por estudantes de cinema australianos que se especializou em filmes deliciosamente trash parodiando as piores produções de ação e ficção científica dos anos 60.

Italian Spiderman foi criado como trabalho para a Flinders University, de Adelaide, Austrália. Mas claro que a história fictícia dos primeiros parágrafos - inventada pelos cineastas para dar mais "autoridade" à produção - é bem mais interessante.

Vale a pena conferir também os hilários trailers do filme - principalmente os que focam o frondoso bigode do protagonista.

Fonte: Omelete

sexta-feira, 14 de março de 2008

The Hire

Entre 2001 e 2002, a BMW contratou os serviços de David Fincher (o diretor de "Seven" e "Clube da Luta") para produzir uma série de curtas-metragem exclusiva para a Internet, por meio da BMW Films: a série "The Hire".

Fincher, então, recrutou vários diretores de renome para conduzir os episódios e um ator britânico na época, pouco conhecido: Clive Owen (de "Mandando bala"). Entre os diretores estão: John Frankenheimer, Ang Lee, Guy Ritchie, Wong Kar-Wai, Joe Carnahan, Alejandro Gonzáles Iñarritu, Tony Scott e John Woo.

Em "Ambush", o diretor John Frankenheimer compensa a fotografia medíocre, a falta de imaginação e o humor rasteiro da trama com uma montagem extremamente ágil, ao narrar os apuros de um contrabandista de diamantes que contrata os serviços do Driver (o personagem central de todas as histórias, sempre interpretado por Owen) e que acaba salvo por ele de um ataque surpresa de bandidos encapuzados fortemente armados.




Em "Chosen", o diretor Ang Lee comprova o talento para criar coreografias vistosas e ousadas (o que já foi comprovado no filme "O tigre e o dragão"), só que desta vez com os carrões possantes da BMW! Na trama, o Driver vai até as docas encontrar um garoto vindo do Tibet, o "escolhido" do título, e vira alvo de mais uma perseguição de bandidos. A curiosidade fica por conta do modo divertido que Lee utiliza para revelar aquele que seria seu próximo filme, uma versão para a telona de um musculoso e esverdeado herói dos quadrinhos.




Guy Richtie, o diretor de "Jogos, trapaças e dois canos fumegantes", dirige sua moglie Madonna no episódio "Star". Encarnando a tirânica personagem do título, que depois de usar e abusar da irrepreensível polidez do Driver, acaba jogada de um lado para o outro no banco de trás de uma BMW, ao som de "Song 2", do Blur - um surpreendente, cômico e merecido castigo por sua arrogância. Sem dúvida, o melhor e mais bem humorado de todos os curtas, com planos mais inventivos, o melhor texto e os vôos e cavalos de pau mais arrojados de toda a série.




"Beat the Devil", dirigido por Tony Scott é o mais psicodélico de todos. Nesse episódio, o Driver ajuda James Brown a renegociar os termos de um contrato firmado entre o cantor e o diabo (Gary Oldman).


domingo, 27 de janeiro de 2008

Cinco discos aleatórios (e fundamentais)

Alice in Chains, Greatest hits

Como o nome e a capa muito bem ilustram, trata-se da reunião das maiores porradas do Alice in Chains num único disco.

The Wicked Pickett, Wilson Pickett

Parágrafo. WILSON PICKETT. Ponto.

The Rolling Stones, Let's spend the night together

Dois dos maiores clássicos dos Stones.


France Gall, disco homônimo

Diva suprema dos anos sessenta, France Gall é fundamental.

Top hits Portugal

Disco com clássicos de Os Chinchilas, Tudella, Florbela Queiróz, Manuel Freire, Agostinho dos Santos, Teresa Silva Carvalho, João Queiroz, Fernando La Rua, Nicolau Breyner, Edmundo Falé e Madalena Iglésias. Fundamental.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Viagem a Darjeeling

Há algo que distancia os filmes do diretor Wes Anderson dos de outros cineastas; uma espécie de meditação romântica sobre as desagradáveis, mas inevitáveis e necessárias, experiências de amadurecimento (que, no fundo, são o que proporciona um senso de perspectiva e conforto mais tarde na vida). É a mesma sensação que tive, por exemplo, quando li “O apanhador no campo de centeio”, do Salinger.

Enquanto a maioria dos cineastas realiza filmes com uma ou duas cenas memoráveis, alguns diretores, como Anderson, parecem querer que cada cena seja um grande momento – uma combinação perfeita de música, imagem e atuação que encapsula uma certa emoção ou estado de ser.

Em "Viagem a Darjeeling" (The Darjeeling Limited), três irmãos embarcam numa viagem de trem pela Índia. Eles não se falavam desde o funeral do pai e cada um deles traz consigo um problema: Francis é suicida; Peter está com problemas no casamento; e Jack está se recuperando de uma desilusão amorosa. Ao longo da jornada, eles brigam, são expulsos do trem, procuram pela mãe, que os abandonou, e tentam encontrar purificação espiritual. Ao final do filme fica a sensação de que a verdadeira viagem era para aprender a apreciar os prazeres simples que vêm quando se deixa a vida acontecer, assim como no livro do Salinger.

O filme é sobre estar consciente dos perigos de ceder aos mais íntimos impulsos, de que mesmo num ambiente cuidadosamente construído as coisas podem desmoronar e, mais que isso, de que no fundo todas as certezas que se tem não passam de ilusão. O filme consegue transmitir um sentimento de família, não sei se no sentido estrito, mas na forma como seus membros possam interagir, o modo distinto de como as pessoas demonstram amor e preocupação e o desejo de manter essas conexões.

Em determinado ponto da narrativa, o trem em que as personagens estão se perde. A idéia de um trem que se perde dos trilhos é uma boa metáfora para a situação da família Whitman. Francis, o irmão mais velho, cujo rosto foi destruido numa tentativa de suicídio, se pergunta em que ponto da vida seu caminho e o de seus irmãos se distanciaram (uma vez que partiram dos mesmos trilhos...) e se algum dia eles seguirão na mesma direção.

O modo como Anderson filma as seqüências, permite que algumas cenas corram sem edição e que os três irmãos sejam enquadrados num mesmo quadro. A imagem reflete o espaço claustrofóbico do trem, mas também força os irmãos a ficaram próximos uns dos outros.

O filme tem uma bela fotografia e muito do humor vem do modo como as personagens interagem com o local exótico. Assim como nos outros filmes do diretor, a trilha sonora é composta por uma seleção bastante eclética, com músicas do The Kinks, Rolling Stones, Joe Dassin, Peter Sarstedt e várias faixas retiradas de filmes indianos. Fechando para balanço, na minha opinião, é o melhor filme de 2007.


sábado, 8 de dezembro de 2007

Clatu, verata, nictu?

As vezes me perguntam de onde tirei o nome desse blog. Como a explicação foi dada apenas no início dos tempos, no longíquo ano de 2004, e tendo em vista que com o advento do Youtube os argumentos agora podem ser ratificados com som e imagem, acho que está na hora de desvendar o segredo.



"Clatu, verata, nictu" (ou ainda, "Klatu, ferata, nictu", ou, como é mais próximo do original, "Klaatu, barada, nikto") é uma expressão que surgiu no filme de ficção cientítica da Guerra fria, "O dia em que a Terra parou" (The day the Earth stood still, 1951). A frase era usada para impedir que um robô, chamado Gort, destruísse a Terra: "Gort! Clatu, verata, nictu!".

Embora algumas pessoas acreditem que é uma expressão em latim, na verdade trata-se apenas de uma idiossincrasia. Tanto é assim, que não há uma tradução coerente, ao menos não que eu conheça.

"Clatu" é o nome do alienígena humanóide do filme. Em russo, a palavra "barada" (escrita "borodá"/"борода", mas pronunciada "baradá") significa barba e "nikto" (никто) significa "ninguém". Em resumo, fora do contexto do filme não quer dizer nada. Apesar disso, ao longo do tempo a expressão foi usada repetidamente na cultura popular.

Os membros da banda Creedence Clearwater Revival eram fãs do filme e durante sua turnê de 1969 inscreveram as palavras "Klaatu barada nikkto" em todos os seus equipamentos e intrumentos. O robô Gort faz uma minúscula aparição na capa do último álbum em estúdio deles (Mardi Gras).


No filme "Encontros imediatos do terceiro grau" (Close Encounters of the Third Kind, 1977) há uma tomada aérea de uma área subdividida em escritórios com várias pessoas tentando contactar alienígenas. Numa das paredes a frase aparece escrita num grande banner numa das paredes.

No filme "O retorno de Jedi", dois dos guardas de Jabba são chamados Klaatu (um membro da raça nikto) e Barada (um alienigena da espécie Klatooniana).


Por último, mas mais importante, no filme Noite alucinante 3 - O exército das trevas (Evil dead 3 - Army of darkness), o protagonista, Ash, precisa recitar a frase "Clatu, verata, nictu" para afastar o mal e recuperar o Necronomicon, o livro dos mortos. O herói, em sua infinita ignorância, se esquece das palavras e balburcia algo como "Clatu, verata... necktie?" e assim desperta uma horda de zumbis malígnos.





Aí, você me pergunta novamente, "e o que é que isso tem a ver isso com o porquê do título desse blog?" e mais uma vez e eu lhe repondo: nada! Na falta de um título melhor resolvi puxar pela memória e recitar as palavras esquecidas num dos meus filmes preferidos, talvez como uma forma de evitar que um exército de zumbis começase seu domínio da internet por este humilde diário eletrônico.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Odeio as manhãs

Odeio as manhãs. Por mim não dormiria jamais. À noite, a mente elabora um fluxo descontínuo e fragmentado de idéias, sentimentos e frustrações e transforma tudo em pesadelo ou sonho. Aí chega a manhã, e tudo ressurge como uma mancha de óleo, como uma nuvem sufocante de gás. E a realidade, é apenas tristemente, cruelmente, malditamente a realidade.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

A maravilhosa cozinha existencialista

No último fim-de-semana, a Equipe PROTONS foi passar o domingo descansando numa velha casa abandonada desde o século XIX, que fica em algum lugar esquecido na estrada w3 entre as quadras 710 e 715. Lá, nós tivemos a sorte de descobrir diários perdidos de existencialistas franceses do século XIX. Nesses livros estão curiosas associações entre dor e sabor, que perturbará todas as definições metafísicas e conceitos holísticos dos que achavam que uma macarronada não tem nada de existencialista. Para quem se desespera com a questão de quem veio antes, o ovo ou a galinha, haverá de concordar que, pelo menos, num frango assado com farofa de ovos, os dois vão ao mesmo tempo bucho a dentro...
por Bruno Cavalcanti


Diário de Vitor Sodré, existencialista francês, 1891:

15 de janeiro: "Aqui estou eu, preso em mim mesmo, vendo da janela do meu quarto imundo o amontoado de carros indo e vindo, perdidos em sua própria insignificância... Olho para o relógio e concluo ser a hora do almoço... Qual o significado desse momento, tão definitivo na vida do homem comum?... Minha alma agoniza, eu preciso descobrir... Prepararei uma sopa de batatas e chegarei a algum lugar..."

"Coloquei quantas batatas eu quis numa panela. Coloquei água, mas só a quantidade necessária para que as batatas ficassem quase submersas, apenas com uma pequena parte fora d'água, para que se sintam sufocadas, angustiadas..."

"Levei a panela para o lugar mais frio da casa. Coloquei uma cadeira de frente para ela e fique sentado para sempre... Pensei sobre o quanto estou faminto, mas que a escolha é minha de continuar ou não assim. Quando anoitecer, não acenderei as luzes..."

16 de janeiro: (notas de rodapé) "...Como poderei saber ao certo se a batata escolheu ou não ser comida por mim? Isso me deixa mais e mais frustrado..."

"...Sei que aquela panela não representa por si só todas as angústias do homem desamparado num mundo sem Deus. Mas como posso demonstrar isso apenas com carboidratos?..."

17 de janeiro: "Acordei hoje decidido a tirar interpretações mais radicais sobre a sopa, numa tentativa de, talvez, expressar o vácuo existencial entre a fome e a dor. Estou bastante encorajado com os resultados, mas minha jornada ainda é longa..."

"Verduras são vitaminas, que representam o prazer do homem, o supérfluo, a negação. Pode ser que a mistura entre alface, coentro e repolho com a batata, resulte no suicídio da sopa... Mas de qualquer forma, o risco é meu..."

31 de janeiro: "Me tranquei no banheiro por quatorze dias por arrependimento, me negando a encarar qualquer um..."

9 de fevereiro: "...Venho colocando mais e mais batatas na sopa, dia após dia, como soldados marchando para o mar revolto e imprevisível. Melancólico, olho para as batatas, mas elas não me olham de volta... Preciso prová-las, mas não consigo! Apago as luzes, mas não adianta!... Preciso de mais força de vontade... Leio algumas passagens de Kierkegaard e estou finalmente pronto! Droga, tentei criar uma sopa que expressasse o sentido da existência, mas em vez disso, tem gosto de batata!... O que Albert Camus faria? Talvez um pouco de cebola..."

"É a hora do julgamento dos valores da sopa. Pus ela para cozinhar... As batatas pulam angustiadas enquanto a água ferve. Chego à conclusão de que a batata, mesmo livre, é vitimada pelo ambiente e sofre por isso. Estou muito feliz... Estou tão feliz que estou quase surtando!!!... Vou voltar pro banheiro..."

13 de fevereiro: "...Faz quatro dias que estou no banheiro, e já caíram 8.596 gotas de água na pia. Tudo é mesmo tão efêmero!... Ao sair do banheiro, percebo que o fogo do fogão (no caso, o fogão é a existência e o fogo é a essência) se extinguiu. A água evaporou da panela, embora, de gota em gota, continue existindo da torneira até a pia. Quão subjetivo é tudo isso! Estou tonto, acho que vou desmaiar..."

"Preciso colocar mais sal para poder chegar à definição perfeita do sentimento do vocábulo 'sopa'. O que ele representa? O quanto ele vale? Como ele se sente? Diabos, o que importa, já sei que a sopa vai viver e morrer sozinha!..."

14 de fevereiro: "As coisas não aconteceram como eu esperava! A sopa está cheirando mal, talvez tenha estragado... Afinal, faz um mês e meio que a venho preparando... Enfim, que seja! Não é este mesmo o fim de todas as coisas?..."

Fonte: http://www.protons.com.br/megazine/Xreceitas-existen.html

sábado, 20 de outubro de 2007

Existencialismo II

O homem é o único animal que se define a si próprio através do ato de viver. Em outras palavras, o homem (ou a mulher) primeiro existe, depois o indivíduo usa o tempo de sua vida para mudar a sua essência. O sentido da vida só é dado com a vivência. A busca do sentido da vida no existencialismo é a busca por si próprio.

Diferente do que muitos pensam, o existencialismo não é um tema sombrio ou deprimente. O existencialismo é sobre a vida. Mas não a vida como esta é tratada por Nietzsche ou Schopenhauer, que apesar de terem focalizado parte de suas reflexões para questões tipicamente existencialistas, o fizeram sem abandonar suas respectivas linhas de pensamento, ou seja, suas reflexões direcionavam-se para a vida e não para existência em si. A questão primordial é: em que lugar de sua filosofia o filósofo trata da existência? Ou ainda, ela tem prioridade?

Os filósofos da existência empenham-se em pensar o individuo real e contraditório a partir de sua existência cotidiana sem qualquer relevo especial. Some-se a isso fato de as filosofias da existência serem anti-naturalistas: existir é a condição/situação na qual nos encontramos desde sempre, não é uma natureza. O humano é, portanto, não-definível.

Nietzsche criticou a moral socrática, mas ao fazer isso, não considerou a singularidade de Sócrates como indivíduo, como Kierkegaard, por exemplo, o fez. Nietzsche considerou Sócrates e Cristo como figuras históricas (seus conceitos, o que representam) e não como singulares singularíssimos. O ponto é que tanto Schopenhauer como Nietzsche tratavam o Ser e seus estados de maneira totalizadora e não singular. As filosofias não existenciais podem dar respostas objetivas para o mundo, o existencialismo, não. Ele coloca o acento na subjetividade, no ponto de vista interior.

As filosofias existencialistas consideram o homem como um ser finito, continuamente confrontado com situações problemáticas e absurdas. O que interessa ao existencialismo é o homem em sua singularidade. No centro do pensamento existencialista encontra-se o homem singular e finito que faz escolhas e que lida com a situação de estar jogado no mundo.

sábado, 6 de outubro de 2007

Apesar de tudo

É preciso tentar,
apesar das pessoas,
apesar das escolhas,

apesar dos erros,
apesar do cansaço,
apesar da sorte,
apesar da falta de sorte.

É preciso viver,

apesar das pessoas,
apesar da seca,
apesar do semestre,
apesar dos impostos,
apesar da morte,
apesar da vida.

É preciso amar,
apesar do egoísmo,
apesar da distância,
apesar do medo,
apesar do ódio,
apesar das pessoas,
principalmente das pessoas,
principalmente as pessoas.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Nascere è un fatto

Luigi Pirandello

Nascere è un fatto. Nascere in un tempo anziché in un altro ve l'ho già detto; e da questo o da quel padre, e in questa o quella condizione; nascere maschio o femmina; in Lapponia o nel centro dell'Africa; e bello o brutto; con la gobba o senza gobba: fatti. E anche se perdete un occhio, è un fatto e potete anche perderli tutti e due, e se siete pittore è il peggior fatto che vi possa capitare.
Tempo, spazio, necessità. Sorte, fortuna, casi: trappole tutte della vita. Volete essere? C'è questo. In astratto non si è. Bisogna che s’intrappoli l'essere in una forma, e per alcun tempo si finisca in essa, qua o là, cosí o cosí. E ogni cosa, finché dura, porta con sé la pena della sua forma, la pena d'esser cosí e di non poter piú essere altrimenti. Quello sbiobbo là, pare una burla, uno scherzo compatibile sí e no per un minuto solo e poi basta; poi dritto, su, svelto, agile, alto.... ma che! sempre cosí, per tutta la vita che è una sola; e bisogna che si rassegni a passarla tutta tutta cosí.
E come le forme, gli atti.
Quando un atto è compiuto, è quello; non si cangia piú. Quando uno, comunque, abbia agito, anche senza che poi si senta e si ritrovi negli atti compiuti, ciò che ha fatto, resta: come una prigione per lui. Se avete preso moglie, o anche materialmente, se avete rubato e siete stato scoperto; se avete ucciso, come spire e tentacoli vi avviluppano le conseguenze delle vostre azioni; e vi grava sopra, attorno, come un'aria densa, irrespirabile, la responsabilità che per quelle azioni e le conseguenze di esse, non volute o non previste, vi siete assunta. E come potete piú liberarvi?
Già. Ma che intendete dire con questo? Che gli atti come le forme determinano la realtà mia o la vostra? E come? perché? Che siano una prigione, nessuno può negare. Ma se volete affermar questo soltanto, state in guardia che non affermate nulla contro di me, perché io dico appunto e sostengo anzi questo che sono una prigione e la piú ingiusta che si possa immaginare.

In: Uno, nessuno e centomila

sábado, 15 de setembro de 2007

Paciência

Rainer Maria Rilke

Habe Geduld
gegen alles Ungelöste in deinem Herzen
und versuche,
die Fragen selbst lieb zu haben,
wie verschlossene Stuben oder ein neues Buch,
das in fremder Sprache geschrieben ist.
Forsche nicht nach Antworten,
die dir nicht gegeben sind,
weil du sie nicht leben kannst.
Und darum handelt es sich doch:
alles zu leben.
Lebe jetzt die Fragen!
Vielleicht lebst du dann eines neuen Tages,
ohne es zu merken,
in die Antwort hinein.

Tem paciência
com tudo não resolvido em teu coração
e tenta
amar as perguntas em ti
como se fossem quartos trancados ou
um livro novo escrito numa língua estrangeira.
Não busque as respostas
que não te podem ser dadas
porque com elas tu não poderás viver.
E por isso, trata-te de viver tudo.
Vive as perguntas agora!
Talvez te seja dado,
sem que percebas,
de viver até um longínquo dia
em que terás a resposta em ti.

sábado, 7 de julho de 2007

Vida?

homem, cama, relógio
homem, cama, parede
homem, cama, relógio
roupa, carro, sucede

homem, engarrafamento, gente
atraso, prova, estresse
almoço, relógio, gente
trabalho, gente e estresse.

homem, mulher, bar, bebida
homem, mulher, olho, mão
boca, lingua, carro e casa
sala, quarto, roupa

então

homem, mulher, amor, promessa
homem, mulher, carta, flor
sal, tempo, sim, igreja
toalha, escova, parto, dor

homem, mulher, filhos, trabalho
homem, mulher, tempo, não
final de semana, casa, (sogra)
final de semana, televisão

homem, mulher, outro, outra
homem, mulher, tempo, sal
olho, nariz, batom, perfume
grito, tapa, lágrima, (final)

homem, mulher, tempo, nada
homem, mulher, desilusão
homem, mulher
final de semana
bar
bebida.

sábado, 2 de junho de 2007

Capítulo 6: o boletim da 5º série

CENTRO INTERGALÁCTICO DE ENSINO

BOLETIM ESCOLAR

ESTUDANTE: Lobo
SÉRIE: 5ª
PROFESSOR: qual é o nome dele mesmo?



À espera dos bárbaros

Constantino Kaváfis (1863-1933)  O que esperamos na ágora reunidos?  É que os bárbaros chegam hoje.  Por que tanta apatia no senado?  Os s...