Carlos Drummond de Andrade
Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões-da-independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas. A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias.
Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
- Não há nada a fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia.
---------
Texto extraído de: ANDRADE, Carlos Drummond de. A cor de cada um. Rio de Janeiro, Ed. Record, 1998.
"Arriscar-se é perder o equilíbrio por uns tempos, mas não se arriscar é perder-se a si mesmo para sempre." - Søren Aabye Kierkegaard
Assinar:
Postar comentários (Atom)
À espera dos bárbaros
Constantino Kaváfis (1863-1933) O que esperamos na ágora reunidos? É que os bárbaros chegam hoje. Por que tanta apatia no senado? Os s...
-
Luís Fernando Veríssimo Eu queria, senhora, ser o seu armário e guardar os seus tesouros como um corsário Que coisa louca: ser seu guarda-ro...
-
Carlos Drummond de Andrade Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões-da-independência cusp...
-
As vezes me perguntam de onde tirei o nome desse blog. Como a explicação foi dada apenas no início dos tempos, no longíquo ano de 2004, e t...
2 comentários:
Que coisa linda! eu ainda não conhecia esse texto do Drummond. Sabe de uma coisa? Eu também sou um caso de poesia!
Ah vc é.... vc é mt
Postar um comentário