quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Reformat The Planet


BLIP FESTIVAL: REFORMAT THE PLANET trailer from 2 Player Productions on Vimeo.

Sabe quando você assiste um filme e fica pensando "Putz! Que filme bacana!"? Essa foi a sensação que tive quando vi o filme "Reformat the planet". Trata-se de um dos filmes mais surpreendentes do ano. É um documentário muito bem filmado e tudo gira em torno de música eletrônica (chiptune music ou, ainda, música de chip), games, performers e gameboys!

É difícil imaginar a Nintendo pensando que pessoas poderiam “hackear” seus Gameboys para criar concertos musicais – concertos que seriam inspiração para um documentário e para um gênero musical totalmente novo.

Por uma semana, é possível assistir este filme no site Pitchfork.tv. Ele foi dividido em capítulos e ajustado para que o tempo de loading não seja muito demorado.

Se você cresceu jogando em Nintendo 8 bits ou Gameboy vai se ver batendo o pé ao ritmo da música ao longo de todo o filme. Isso sem falar daquele sentimento – um misto de nostalgia e alegria repentina – que é difícil de explicar, mas que faz brotar um sorriso no canto da boca e dizer: “Putz! Que filme bacana!”.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Radiohead - In Rainbows

Pelo tanto que já se falou deste disco desde que foi lançado – palavras ditas e escritas, reais, a respeito de um projeto baseado na virtualidade; afinal este é o primeiro álbum de um grupo importante comercializado inteiramente via Internet – que a discussão sobre o “como” tornou obscuro o debate sobre “o quê”, sobre a qualidade intrínseca da música.

Agora que a poeira parece ter assentado e após o disco ter sido lançado na forma mais tradicional, é possível analisar a questão musical. Como já se tornou rotina no que diz respeito ao Radiohead, a música continua de altíssima qualidade. Apesar de sempre haver aquela inevitável comparação com os discos anteriores, pode-se dizer que os músicos retornam para mais um trabalho em que demonstram o porquê de formarem uma das bandas mais influentes da música atual. Em todas as dez faixas do disco há um senso de urgência de concretização, de um rock tanto pulsante quanto intelectual, que agrada e impulsiona.

Todas as canções se caracterizam pela pesquisa experimental, mas sempre com uma jovialidade que se torna dominante em faixas como “Bodysnatchers”, ou insinuante como o toque de harpas em “Weird fishes (Arpeggi!)”, ou ainda com a cadência sedutora de “All I need”. Os sons são sombrios mas límpidos, a voz é quente, privada daquela espécie de tensão presente, por exemplo, em Amnesiac.

E o melhor de tudo, são canções “rodáveis”/“executáveis”, porque já foram pensadas para execução ao vivo, e não como matéria de laboratório aberta a infinitas experimentações. Dessa forma, trata-se de um álbum concreto que, no início, foi vendido de forma imaterial; mais uma bela contradição do Radiohead.

Nude

Radiohead



Don't get any big ideas
They're not gonna happen
You paint yourself white
And feel up with noise
But there'll be something missing

Now that you've found it, it's gone
Now that you feel it, you don't
You've gone off the rails

So don't get any big ideas
They're not going to happen
You'll go to hell for what your dirty mind is thinking

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Poética

Cesare Pavese

O menino se dá conta de que a árvore é viva.
Se as tenras folhas se abrem a força
uma luz, rompendo impiedosa, a dura casca
deve sofrer muito. Apenas vive em silencio.
Todo o mundo é coberto de plantas que sofrem
na luz, e não se ouve sequem um suspiro.
É uma luz tenra. O menino não sabe
de onde vem, já é tarde; mas cada tronco revela
sobre um fundo mágico. Após um momento é escuro.

O menino – alguém permanece menino
muito tempo – que tinha medo do escuro,
vai pela rua e não presta atenção às casas escurecidas
no crepúsculo. Curva a cabeça à escuta
de uma lembrança remota. Nas ruas desertas
como praças, acumula-se um grave silêncio.
O caminhante poderia estar apenas num bosque,
onde as árvores fossem enormes. A luz
com um arrepio corre os lampiões. As casas
deslumbradas transpiram no vapor azul claro,
e o menino levanta os olhos. Aquele silêncio remoto
que prendia a respiração do caminhante, floresce
na luz súbita. São as árvores antigas
do menino. E a luz é o encanto de outrora.

E alguém, no diáfano circulo, começa
a passar em silencio. Pela rua ninguém
jamais revela a pena que morde a vida.
Andam rápido, cada um como que absorto em seu passo,
e grandes sombras ondulam. Têm as faces enrugadas
e as olheiras dolentes, mas nenhum se lamenta.
Todas as noites, na luz azul clara,
vão como num bosque, entre as casas infinitas.


Poetica
Cesare Pavese

Il ragazzo s'è accorto che l'albero vive.
Se le tenere foglie si schiudono a forza
una luce, rompendo spietate, la dura corteccia
deve troppo soffrire. Pure vive in silenzio.
Tutto il mondo è coperto di piante che soffrono
nella luce, e non s'ode nemmeno un sospiro.
E' una tenera luce. Il ragazzo non sa
donde venga, è già sera; ma ogni tronco rileva
sopra un magico fondo. Dopo un attimo è buio.

Il ragazzo - qualcuno rimane ragazzo
troppo tempo - che aveva paura dei buio,
va per strada e non bada alle case imbrunite
nel crepuscolo. Piega la testa in ascolto
di un ricordo remoto. Nelle strade deserte
come piazze, s'accumula un grave silenzio.
Il passante potrebbe esser solo in un bosco,
dove gli alberi fossero enormi. La luce
con un brivido corre i lampioni. Le case
abbagliate traspaiono nel vapore azzurrino,
e il ragazzo alza gli occhi. Quel silenzio remoto
che stringeva il respiro al passante, è fiorito
nella luce improvvisa. Sono gli alberi antichi
del ragazzo. E la luce è l'incanto d'allora.

E comincia, nel diafano cerchio, qualcuno
a passare in silenzio. Per la strada nessuno
mai rivela la pena che gli morde la vita.
Vanno svelti, ciascuno come assorto nel passo,
e grandi ombre barcollano. Hanno visi solcati
e le occhiaie dolenti, ma nessuno si lagna.
Tutta quanta la notte, nella luce azzurrina,
vanno come in un bosco, tra le case infinite.

sábado, 21 de junho de 2008

Hora severa

Rainer Maria Rilke

Quem agora chora em algum lugar no mundo,
sem motivo chora no mundo,
chora por mim.

Quem agora ri em algum lugar na noite,
sem motivo ri na noite,
se ri de mim.

Quem agora caminha em algum lugar no mundo,
sem motivo caminha no mundo:
caminha até mim.

Quem agora morre em algum lugar no mundo,
sem motivo morre no mundo,
olha para mim.


Ernste Stunde
Rainer Maria Rilke

Wer jetzt weint irgendwo in der Welt,
ohne Grund weint in der Welt,
weint über mich.

Wer jetzt lacht irgendwo in der Nacht,
ohne Grund lacht in der Nacht,
lacht mich aus.

Wer jetzt geht irgendwo in der Welt,
ohne Grund geht in der Welt,
geht zu mir.

Wer jetzt stirbt irgendwo in der Welt,
ohne Grund stirbt in der Welt:
sieht mich an.

Rainer Maria Rilke, Mitte Oktober 1900, Berlin-Schmargendorf

domingo, 15 de junho de 2008

O momento da criação poética

Bob Dylan em trecho do filme "No direction home", Martin Scorsese.



I'm looking for a place that will "collect, clip, bath," and return my dog, KN1-7727, cigarettes and tobacco. Animals and birds bought or sold on commission.

I want a dog that's gonna collect and clean my bath, return my cigarette and give tobacco to my animals and then give my birds a commission.

I'm looking for somebody to sell my dog, collect my clip, buy my animal, and straighten out my bird.

I'm looking for a place to bathe my bird, buy my dog, collect my clip, sell me cigarettes and commission my bath.

I'm looking for a place that's going to collect my commission, sell my dog, burn my bird, and sell me to the cigarette.

Going to bird my buy, collect my will, and bathe my commission.

I'm looking for a place that's going to animal my soul, knit my return, bathe my foot, and collect my dog. Commission me to sell my animals, to the bird to clip and buy my bath and return me back to the cigarettes.

Procuro um lugar que "arrume, corte o pêlo, dê banho" e devolva meu cachorro, KN1-7727. Cigarros e tabaco. "Vendemos e compramos pássaros em comissão."

Eu quero um cachorro que arrume e limpe meu banheiro e devolva meu cigarro dê tabaco aos meus animais e aí dê uma comissão aos meus pássaros.

Procuro alguém que venda meu cachorro corte meu cabelo, compre meu animal e enderece ao meu pássaro.

Procuro um lugar que dê banho no meu pássaro compre meu cachorro, corte meu cabelo me venda cigarros e dê comissão ao meu banho.

Procuro um lugar que recolha minha comissão, venda meu cachorro, queime meu pássaro e me venda ao cigarro.

Vou passarear minha compra, pegar meu desejo, e dar banho na minha comissão.

Procuro um lugar que animalize minha alma, enlace meu retorno, lave meu pé e arrume meu cachorro. Me dê uma comissão por vender meus animais, ao pássaro por cortar e comprar meu banho e me devolver aos cigarros.

sábado, 7 de junho de 2008

Sobre meninos e homens

Hoje quando voltava para casa depois da aula de violão, parei o carro no semáforo e, enquanto esperava, vi algumas crianças. Uns três meninos estavam do lado de fora do portão de uma casa e dentro havia três ou quatro meninas. Se fosse apenas isso, não haveria nada de mais, o que me chamou a atenção foi que os meninos atiravam pedrinhas nas meninas.

Após o choque inicial, parei para tentar entender aquilo e cheguei a conclusão de que essa era a forma, por mais estranha que possa parecer, que eles encontraram para expressar o interesse por elas; um jeito de dizer: “Oi, achei você muito bonita! Quero te conhecer”, no mais grosseiro estilo de um menino de 11 anos (que nesse aspecto, não se distingue muito de suas versões crescidas, talvez apenas pelo tamanho das pedras).

O fato é que aquilo me fez pensar no modo como nos relacionamos com aqueles que gostamos. Por que é tão difícil conversar com outra pessoa de forma sadia e natural? Por que custa tanto se desarmar e se aproximar de quem se gosta/ama para simplesmente dizer de maneira franca aquilo que se sente?

Talvez seja mais fácil responder com pedra a um “saidaquifidaputa” do que enfrentar a incerteza do que poderia advir a um “Oi, meu nome é... queria te conhecer melhor”.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Italian Spiderman

A versão italiana do Homem-Aranha, dos anos 60, finalmente viu a luz do dia. Italian Spiderman começou a ser exibido no YouTube na semana passada, e terá cenas disponibilizadas semanalmente no website e na página do filme no MySpace.


O filme foi produzido entre 1964 e 1968 pela Alrugo Entertainment, do italiano Alfonso Alrugo. O diretor Gianfranco Gatti e o astro Franco Franchetti - nomes mais famosos da produtora - acabaram afundando suas carreiras quando as distribuidoras consideraram o filme "inassistível".

A única cópia do filme estava perdida em um navio cargueiro que afundou em viagem para os EUA. Segundo os últimos desejos de Alfonso Alrugo, seus netos Vivaldi e Verdi fizeram uma expedição submarina que reencontrou os rolos. É esta versão, remasterizada, que chega agora à Internet.




Fantástico, né? Pois é tudo uma grande piada da Alrugo Entertainment - na verdade, uma produtora montada por estudantes de cinema australianos que se especializou em filmes deliciosamente trash parodiando as piores produções de ação e ficção científica dos anos 60.

Italian Spiderman foi criado como trabalho para a Flinders University, de Adelaide, Austrália. Mas claro que a história fictícia dos primeiros parágrafos - inventada pelos cineastas para dar mais "autoridade" à produção - é bem mais interessante.

Vale a pena conferir também os hilários trailers do filme - principalmente os que focam o frondoso bigode do protagonista.

Fonte: Omelete

sábado, 24 de maio de 2008

Apocalypto

Mel Gibson é um cara talentoso. Polêmico, mas talentoso mesmo assim. Ele já demonstrou isso em sua longa carreira de ator e não o desmentiu quando assumiu a cadeira de diretor -  foi premiado, logo em seu segundo filme (Coração valente, 1995), com o Oscar de melhor diretor. Tudo bem que, vez ou outra ele pisa na bola com filmes que não valem a pena nem citar o nome  e que seu filme seguinte como diretor tenha sido o polêmico e desnecessariamente violento "A paixão de Cristo". Nada disso, no entanto, consegue desfaz minha impressão de que ele é um bom diretor. Seu último filme como diretor, Apocalypto, confirma isso.

Apocalypto

Apocalypto é um bom filme. Longe de ser um épico, é  carregado de boas idéias e usa o fim da civilização Maia como desculpa  para apresentar uma eficiente e descompromissada aventura. O foco está na ação e nas imagens. A violência, pode deixar os de estômago mais fraco com enjôos.

A trama trata da luta de um jovem que decide fugir do destino que lhe assinalaram: o sacrifico em honra dos deuses.  E poderia se dizer muito a respeito do enredo e de seus significados metafóricos, apontar para a questão da posse territorial, para o fanatismo religioso, para a tortura a prisioneiros de guerra, para a limpeza étnica, entre outros.

É uma narrativa fria, seca e assustadoramente realista, que abre margens para certas interpretações e metáforas. Mas, mais importante é o ritmo contagiante com que a história é narrada. Gibson não faz concessões e o resultado é um dos filmes mais violentos de todos os tempos e mais que isso, um filme bastante divertido.

sexta-feira, 14 de março de 2008

The Hire

Entre 2001 e 2002, a BMW contratou os serviços de David Fincher (o diretor de "Seven" e "Clube da Luta") para produzir uma série de curtas-metragem exclusiva para a Internet, por meio da BMW Films: a série "The Hire".

Fincher, então, recrutou vários diretores de renome para conduzir os episódios e um ator britânico na época, pouco conhecido: Clive Owen (de "Mandando bala"). Entre os diretores estão: John Frankenheimer, Ang Lee, Guy Ritchie, Wong Kar-Wai, Joe Carnahan, Alejandro Gonzáles Iñarritu, Tony Scott e John Woo.

Em "Ambush", o diretor John Frankenheimer compensa a fotografia medíocre, a falta de imaginação e o humor rasteiro da trama com uma montagem extremamente ágil, ao narrar os apuros de um contrabandista de diamantes que contrata os serviços do Driver (o personagem central de todas as histórias, sempre interpretado por Owen) e que acaba salvo por ele de um ataque surpresa de bandidos encapuzados fortemente armados.




Em "Chosen", o diretor Ang Lee comprova o talento para criar coreografias vistosas e ousadas (o que já foi comprovado no filme "O tigre e o dragão"), só que desta vez com os carrões possantes da BMW! Na trama, o Driver vai até as docas encontrar um garoto vindo do Tibet, o "escolhido" do título, e vira alvo de mais uma perseguição de bandidos. A curiosidade fica por conta do modo divertido que Lee utiliza para revelar aquele que seria seu próximo filme, uma versão para a telona de um musculoso e esverdeado herói dos quadrinhos.




Guy Richtie, o diretor de "Jogos, trapaças e dois canos fumegantes", dirige sua moglie Madonna no episódio "Star". Encarnando a tirânica personagem do título, que depois de usar e abusar da irrepreensível polidez do Driver, acaba jogada de um lado para o outro no banco de trás de uma BMW, ao som de "Song 2", do Blur - um surpreendente, cômico e merecido castigo por sua arrogância. Sem dúvida, o melhor e mais bem humorado de todos os curtas, com planos mais inventivos, o melhor texto e os vôos e cavalos de pau mais arrojados de toda a série.




"Beat the Devil", dirigido por Tony Scott é o mais psicodélico de todos. Nesse episódio, o Driver ajuda James Brown a renegociar os termos de um contrato firmado entre o cantor e o diabo (Gary Oldman).


domingo, 17 de fevereiro de 2008

O passado é o que empurra você e eu...

.
O passado é o que empurra você e eu e todos da mesmíssima maneira. E a noite pertence a você e a mim e a todo mundo. E o que ainda não foi tentado e o que vem depois é pra você e pra mim e pra todo mundo.
.
Walt Whitman

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Aniversário

Álvaro de Campos

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a.olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho... )
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos ...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos. . .

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

La speranza

Cesare Pavese

Verrà la morte e avrà i tuoi occhi
questa morte che ci accompagna
dal mattino alla sera, insonne, sorda,
come un vecchio rimorso o un vizio assurdo.

I tuoi occhi saranno una vana parola,
un grido taciuto, un silenzio.
Cosi li vedi ogni mattina
quando su te sola ti pieghi nello specchio.

O cara speranza,
quel giorno sapremo anche noi
che sei la vita e sei il nulla..

..per tutti la morte ha uno sguardo.
Verrà la morte e avrà i tuoi occhi.

Sarà come smettere un vizio,
come vedere nello specchio,
riemergere un viso morto,
come ascoltare un labbro chiuso.
Scenderemo nel gorgo muti.

A esperança
Cesare Pavese

Virá a morte e ela terá os teus olhos
esta morte que nos acompanha
da manhã até a noite, insone, surda,
como um velho remorso ou um vício absurdo.

Os teus olhos serão uma vã palavra,
um grito não dado, um silencio.
Assim os vê cada manhã
quando sobre ti sozinha te inclinas no espelho.

Ó cara esperança,
aquele dia saberemos também nós
que és a vida e és o nada...

...para todos a morte tem um olhar.
Virá a morte e ela terá os teus olhos.

Será como parar um vício,
como ver no espelho,
re-emergir uma figura morta,
como escutar um lábio fechado.
Desceremos no redemoinho mudos.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Cinco discos aleatórios (e fundamentais)

Alice in Chains, Greatest hits

Como o nome e a capa muito bem ilustram, trata-se da reunião das maiores porradas do Alice in Chains num único disco.

The Wicked Pickett, Wilson Pickett

Parágrafo. WILSON PICKETT. Ponto.

The Rolling Stones, Let's spend the night together

Dois dos maiores clássicos dos Stones.


France Gall, disco homônimo

Diva suprema dos anos sessenta, France Gall é fundamental.

Top hits Portugal

Disco com clássicos de Os Chinchilas, Tudella, Florbela Queiróz, Manuel Freire, Agostinho dos Santos, Teresa Silva Carvalho, João Queiroz, Fernando La Rua, Nicolau Breyner, Edmundo Falé e Madalena Iglésias. Fundamental.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Sterne und Träume

Markus Bomhard

Sterne und Träume
Weißt Du noch,
wie ich Dir die Sterne vom Himmel
holen wollte,
um uns einen Traum zu erfüllen?
Aber
Du meintest,
sie hingen viel zu hoch ...!
Gestern
streckte ich mich zufällig
dem Himmel entgegen,
und ein Stern fiel
in meine Hand hinein.
Er war noch warm
und zeigte mir,
daß Träume vielleicht nicht sofort
in Erfüllung gehen;
aber irgendwann ...?!

Estrelas e sonhos
Markus Bomhard

Estrelas e sonhos
Ainda se lembra,
de quando eu quis buscar as estrelas do céu
para você,
para nos realizar um sonho?

Mas,
você achava,
que elas estavam muito altas ...!
Ontem
espreguicei-me, sem intenção,
em direção ao céu
e uma estrela caiu
na palma da minha mão.
Ainda estava quente
e me mostrou
que talvez os sonhos não
se realizem de imediato;
mas algum dia ...?!

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Viagem a Darjeeling

Há algo que distancia os filmes do diretor Wes Anderson dos de outros cineastas; uma espécie de meditação romântica sobre as desagradáveis, mas inevitáveis e necessárias, experiências de amadurecimento (que, no fundo, são o que proporciona um senso de perspectiva e conforto mais tarde na vida). É a mesma sensação que tive, por exemplo, quando li “O apanhador no campo de centeio”, do Salinger.

Enquanto a maioria dos cineastas realiza filmes com uma ou duas cenas memoráveis, alguns diretores, como Anderson, parecem querer que cada cena seja um grande momento – uma combinação perfeita de música, imagem e atuação que encapsula uma certa emoção ou estado de ser.

Em "Viagem a Darjeeling" (The Darjeeling Limited), três irmãos embarcam numa viagem de trem pela Índia. Eles não se falavam desde o funeral do pai e cada um deles traz consigo um problema: Francis é suicida; Peter está com problemas no casamento; e Jack está se recuperando de uma desilusão amorosa. Ao longo da jornada, eles brigam, são expulsos do trem, procuram pela mãe, que os abandonou, e tentam encontrar purificação espiritual. Ao final do filme fica a sensação de que a verdadeira viagem era para aprender a apreciar os prazeres simples que vêm quando se deixa a vida acontecer, assim como no livro do Salinger.

O filme é sobre estar consciente dos perigos de ceder aos mais íntimos impulsos, de que mesmo num ambiente cuidadosamente construído as coisas podem desmoronar e, mais que isso, de que no fundo todas as certezas que se tem não passam de ilusão. O filme consegue transmitir um sentimento de família, não sei se no sentido estrito, mas na forma como seus membros possam interagir, o modo distinto de como as pessoas demonstram amor e preocupação e o desejo de manter essas conexões.

Em determinado ponto da narrativa, o trem em que as personagens estão se perde. A idéia de um trem que se perde dos trilhos é uma boa metáfora para a situação da família Whitman. Francis, o irmão mais velho, cujo rosto foi destruido numa tentativa de suicídio, se pergunta em que ponto da vida seu caminho e o de seus irmãos se distanciaram (uma vez que partiram dos mesmos trilhos...) e se algum dia eles seguirão na mesma direção.

O modo como Anderson filma as seqüências, permite que algumas cenas corram sem edição e que os três irmãos sejam enquadrados num mesmo quadro. A imagem reflete o espaço claustrofóbico do trem, mas também força os irmãos a ficaram próximos uns dos outros.

O filme tem uma bela fotografia e muito do humor vem do modo como as personagens interagem com o local exótico. Assim como nos outros filmes do diretor, a trilha sonora é composta por uma seleção bastante eclética, com músicas do The Kinks, Rolling Stones, Joe Dassin, Peter Sarstedt e várias faixas retiradas de filmes indianos. Fechando para balanço, na minha opinião, é o melhor filme de 2007.


sábado, 8 de dezembro de 2007

Clatu, verata, nictu?

As vezes me perguntam de onde tirei o nome desse blog. Como a explicação foi dada apenas no início dos tempos, no longíquo ano de 2004, e tendo em vista que com o advento do Youtube os argumentos agora podem ser ratificados com som e imagem, acho que está na hora de desvendar o segredo.



"Clatu, verata, nictu" (ou ainda, "Klatu, ferata, nictu", ou, como é mais próximo do original, "Klaatu, barada, nikto") é uma expressão que surgiu no filme de ficção cientítica da Guerra fria, "O dia em que a Terra parou" (The day the Earth stood still, 1951). A frase era usada para impedir que um robô, chamado Gort, destruísse a Terra: "Gort! Clatu, verata, nictu!".

Embora algumas pessoas acreditem que é uma expressão em latim, na verdade trata-se apenas de uma idiossincrasia. Tanto é assim, que não há uma tradução coerente, ao menos não que eu conheça.

"Clatu" é o nome do alienígena humanóide do filme. Em russo, a palavra "barada" (escrita "borodá"/"борода", mas pronunciada "baradá") significa barba e "nikto" (никто) significa "ninguém". Em resumo, fora do contexto do filme não quer dizer nada. Apesar disso, ao longo do tempo a expressão foi usada repetidamente na cultura popular.

Os membros da banda Creedence Clearwater Revival eram fãs do filme e durante sua turnê de 1969 inscreveram as palavras "Klaatu barada nikkto" em todos os seus equipamentos e intrumentos. O robô Gort faz uma minúscula aparição na capa do último álbum em estúdio deles (Mardi Gras).


No filme "Encontros imediatos do terceiro grau" (Close Encounters of the Third Kind, 1977) há uma tomada aérea de uma área subdividida em escritórios com várias pessoas tentando contactar alienígenas. Numa das paredes a frase aparece escrita num grande banner numa das paredes.

No filme "O retorno de Jedi", dois dos guardas de Jabba são chamados Klaatu (um membro da raça nikto) e Barada (um alienigena da espécie Klatooniana).


Por último, mas mais importante, no filme Noite alucinante 3 - O exército das trevas (Evil dead 3 - Army of darkness), o protagonista, Ash, precisa recitar a frase "Clatu, verata, nictu" para afastar o mal e recuperar o Necronomicon, o livro dos mortos. O herói, em sua infinita ignorância, se esquece das palavras e balburcia algo como "Clatu, verata... necktie?" e assim desperta uma horda de zumbis malígnos.





Aí, você me pergunta novamente, "e o que é que isso tem a ver isso com o porquê do título desse blog?" e mais uma vez e eu lhe repondo: nada! Na falta de um título melhor resolvi puxar pela memória e recitar as palavras esquecidas num dos meus filmes preferidos, talvez como uma forma de evitar que um exército de zumbis começase seu domínio da internet por este humilde diário eletrônico.

domingo, 25 de novembro de 2007

Nunca ninguém sabe

Mário Quintana

Nunca ninguém sabe se estou
louco para rir ou para chorar...
Por isso o meu verso tem
esse quase imperceptível tremor...
A vida é triste, o mundo é louco!
Nem vale a pena matar-se por isso
Ninguém por ninguém!
Por nenhum amor...
A vida continua, indiferente!

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Ai se sêsse

Zé da Luz


Se um dia nois se gostasse
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse
Se juntim nois dois morasse
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois assubisse
Mas porém se acontecesse de São Pedro não abrisse
a porta do céu e fosse te dizer qualquer tolice
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tarvês que nois dois ficasse
Tarvês que nois dois caisse
E o céu furado arriasse e as virgi toda fugisse

domingo, 18 de novembro de 2007

Einmal nahm ich

Rainer Maria Rilke

Einmal nahm ich zwischen meine Hände
dein Gesicht. Der Mond fiel darauf ein.
Unbegreiflichster der Gegenstände
unter überfließendem Gewein.

Wie ein williges, das still besteht,
beinah war es wie ein Ding zu halten.
Und doch war kein Wesen in der kalten
Nacht, das mir unendlicher entgeht.

O da strömen wir zu diesen Stellen,
drängen in die kleine Oberfläche
alle Wellen unsres Herzens,
Lust und Schwäche,
und wem halten wir sie schließlich hin?

Ach dem Fremden, der uns missverstanden,
ach dem andern, den wir niemals fanden,
denen Knechten, die uns banden,
Frühlingswinden, die damit entschwanden,
und der Stille, der Verliererin


Uma vez tomei
Rainer Maria Rilke

Uma vez tomei entre minhas mãos
teu rosto. Sobre ele caia a lua.
O mais fantástico dos objetos
submerso em pranto.

Como algo dócil, que existe em silêncio,
contê-lo era quase como que um ardil.
E, ainda assim, não havia o que na
fria noite mais infinitamente me escapava.

Oh, porque desembocamos nestes lugares,
represando na pequena superfície
todas as ondas de nossos corações,
prazer e fraqueza,
e a quem ofereceremos tudo ao final?

Ah, aos estranhos, que nos mal entenderam,
ah, aos outros, que jamais encontramos,
aos servos, que nos ataram,
aos ventos de primavera, que se desvaneceram,
e ao sossego, o perdedor.

À espera dos bárbaros

Constantino Kaváfis (1863-1933)  O que esperamos na ágora reunidos?  É que os bárbaros chegam hoje.  Por que tanta apatia no senado?  Os s...