domingo, 25 de junho de 2006

Sonhos

Sempre fui meio grilado com meus sonhos – provavelmente por não ter tido muitos. Lembro-me perfeitamente de alguns pesadelos que tive e que me perturbaram bastante. Mas, mais estranho do que acordar assustado com algum pesadelo, é a impressão estranha de acordar "apaixonado" por um devaneio do inconsciente, por uma pessoa que jamais existiu, senão em minha mente, e ficar completamente confuso com essa sensação.

Tudo funciona assim: você acorda atônico pela manhã e não consegue aceitar que sua mente tenha sido capaz de criar tudo aquilo. Você precisa comprovar que tudo não passa realmente de um sonho; quer tentar encontrar ao menos uma evidência que prove que seu inconsciente não teria capacidade de te pregar tamanha peça. Mais ou menos como aquele personagem do filme “Em algum lugar do passado”, você começa a ficar obcecado com a idéia de reencontrar aquela pessoa do seu sonho, ainda meio aturdido pela dúvida de estar sonhando ou desperto.

É parecido com a sensação que se tem quando se tem sonhos desta espécie com alguém que se viu uma única vez... Certa ocasião, na escola, quando eu era ainda mais estranho do que sou hoje e tinha por volta de 13 anos, lembro-me de ter passado todo o recreio procurando uma garota mais velha do que eu, ainda sonhando acordado o sonho que tinha tido na noite passada com alguém que havia visto apenas de relance. Sempre fui tímido e com certeza não haveria nada a ser feito além de encontrá-la, mas eu queria revê-la e sentir uma pontinha de nostalgia do que ela nem sonhava... Não sonhara... E nem sonharia... Ou será que na mesma noite teria ela sonhado com aquele menino e talvez estivesse procurando-o também com o desejo secreto de apenas revê-lo?

Não estava.

Eu a vi entre várias amigas. Estava exatamente como no sonho: o mesmo cabelo curto, o rosto cheio de espinhas, as sobrancelhas fortes que realçavam o brilho dos olhos... É estranho quando você se depara com alguém com quem teve um relacionamento que foi tão intenso, e que no entanto só existiu em sua mente. Talvez seja a mesma sensação de um fã que passa anos sonhando com a oportunidade de ficar cara a cara com seu ídolo e de repente consegue realizar essa façanha. Não sei. Não consigo explicar com palavras, mas lembro-me de ter ficado parado ali por algum tempo, olhando e lembrando. Eu a amei baixinho, num segredo velado, típico desses sonhos que se sonha sozinho... Sonho tão real que venceu até o desafio do tempo e da memória, e que me faz curiosamente lembrar dela, quando eu mesmo já esqueci de tantas pessoas que amei ao longo tempo.

Acho que estou ficando velho.

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