Clatu, Verata, Nictu
"Arriscar-se é perder o equilíbrio por uns tempos, mas não se arriscar é perder-se a si mesmo para sempre." - Søren Aabye Kierkegaard
quinta-feira, 27 de janeiro de 2022
À espera dos bárbaros
sábado, 14 de julho de 2018
Nada
Ei gata, quando você for embora
Não deixe nada para trás
Eu não quero nada
Não posso usar nada
Tome cuidado no salão
E se vir meus amigos
Diga e eles que estou bem
Não usando nada
Quase queimei meus olhos
Queimei meus ouvidos no chão
Eu não vi nada
Eu não ouvi nada
Fiquei lá como um bloco de pedra
Sabendo tudo o que deveria saber
E nada mais
Cara, isso não é nada
Como irmãos, nossos problemas estão
Trancados nos braços um do outro
E melhor rezar
Para que eles nunca te encontrem
Suas costas não são fortes o suficiente
Para cargas dobradas
Eles te esmagariam
Até não sobrar nada
Nascer é ficar cego
E curvar-se umas mil vezes
O eco fica preso
Em pura tentação
Tristeza e solidão
Estas são as coisas preciosas
E as únicas palavras
Que valem a pena lembrar
Nothin'
Townes Van Zandt
Hey mama, when you leave
Don't leave a thing behind
I don't want nothin'
I can't use nothin'
Take care into the hall
And if you see my friends
Tell them I'm fine
Not using nothin'
Almost burned out my eyes
Threw my ears down to the floor
I didn't see nothin'
I didn't hear nothin'
I stood there like a block of stone
Knowin' all I had to know
And nothin' more
Man, that's nothin'
As brothers our troubles are
Locked in each others arms
And you better pray
They never find you
Your back ain't strong enough
For burdens double fold
They'd crush you down
Down into nothin'
Being born is going blind
And bowing down a thousand times
The echo strung
On pure temptation
Sorrow and solitude
These are the precious things
And the only words
That are worth rememberin'
terça-feira, 7 de outubro de 2014
O andarilho - Segunda versão
SEMPRE se apoia na colina a noite branca,
onde se eleva o álamo, em música prateada,
há estrelas e pedras.
Sonolenta, arqueia-se sobre o rio a pequena ponte,
um rosto morto persegue o menino,
meia lua no vale rosa
e, ao longe, pastores agradecem. Do pedregoso leito
avista com seus olhos cristalinos o sapo,
ergue-se, do vento florido, a voz de pássaro do que se assemelha a um morto
e os passos verdejam lentos no bosque.
E isto recorda ao animal e à árvore. Lentas escadas de musgo;
e a Lua,
esplêndida, cujo brilho se afunda na lagoa melancólica.
Ele regressa e vaga pelas verdes costas,
equilibra-se numa gôndola negra pela cidade em ruínas.
DER WANDERER 2. Fassung
IMMER lehnt am Hügel die weiße Nacht, Wo in Silbertönen die Pappel ragt, Stern' und Steine sind. Schlafend wölbt sich über den Gießbach der Steg, Folgt dem Knaben ein erstorbenes Antlitz, Sichelmond in rosiger Schlucht Ferne preisenden Hirten. In altem Gestein Schaut aus kristallenen Augen die Kröte, Erwacht der blühende Wind, die Vogelstimme des Totengleichen Und die Schritte ergrünen leise im Wald. Dieses erinnert an Baum und Tier. Langsame Stufen von Moos; Und der Mond, Der glänzend in traurigen Wassern versinkt. Jener kehrt wieder und wandelt an grünem Gestade, Schaukelt auf schwarzem Gondelschiffchen durch die verfallene Stadt.
sexta-feira, 26 de setembro de 2014
Insônia
“O que vejo, o que sou e suponho será apenas um sonho num sonho?”
Quando se sofre de insônia, uma das melhores coisas para se fazer de madrugada é escrever. Ficar plugado no computador, por horas, digitando idéias até que o sono finalmente chegue. Isso geralmente é um problema, mas às vezes até que vem a calhar. É o final do semestre, e eu aproveito a vigília para terminar o último trabalho de literatura. A luz branda do monitor mal ilumina o ambiente e o silêncio só é quebrado pelo telequeteque do teclado. O frio cortante é amenizado pelo chá quente. Estranhamente, a inspiração está fluindo. Minhas considerações finais são armazenadas no documento – estou prestes a concluir meu texto. O frio aumenta. O chá acaba. O corpo cansado pede socorro para o sono. A mente, pouco ágil, precisa de algo que ajude manter a concentração.
Vou até a cozinha, preparo um café forte e volto para o quarto. A xícara fumegante transborda no pires. Sento-me. Para minha surpresa, na telinha, no lugar de meu texto, amontoam-se palavras incoerentes. Meu coração acelera. Putz! Perdi todo o meu trabalho... Serei obrigado a refazê-lo totalmente... Mas como, se não escrevi nenhum rascunho e fui digitando a medida em que as idéias me vinham à cabeça? Tento mudar a página. Subo a barra, desço a barra. O Word fica na mesma. Noto que as palavras estão organizadas duas a duas e sempre obedecendo ao mesmo padrão: “nunca mais”. Imediatamente passo o antivírus e verifico o firewall. Nada é constatado. Desligo o computador. Será que a condição de insone está me pregando uma peça? Estarei pagando o preço por abusar dos limites do corpo? Afinal, já faz três dias que não durmo direito... Sim, deve ser isso... Quando se tem insônia, nada parece ser real. Você nunca está realmente acordado, mas também nunca está realmente dormindo... Sua mente não consegue focalizar um pensamento, pois sempre há vários – tudo se torna disperso. Além disso, o céu e azul a água é molhada e os computadores travam... Novos vírus surgem todos os dias... Talvez, mais tarde, quando estiver devidamente descansado, eu consiga compreender o que aconteceu e seja capaz de perceber que tudo não passa de uma sucessão comum de causas e efeitos muito naturais. Sim, deve ser isso... Que seja, então... Não posso perder tempo. Tenho que recomeçar... Reinício o computador. Concentro meu pensamento. Com muita dificuldade, consigo refazer os tópicos principais. Os olhos ardem. O corpo dói. O sono finalmente chega. Preciso de mais café...
Oh! Que minha juventude foi um permanente devaneio!
Meu espírito não despertou, até que veio
o raio de uma Eternidade que trouxesse a aurora.
Sim! Embora fosse esse longo sonho de aflição perdida,
Era melhor que a realidade gélida
da vida desperta, dos que de coração devem ser,
e ainda têm sido, sobre a amável Terra
um caos de profunda paixão, desde o início da vida. 1
Quando finalmente consigo focalizar minha mente, meu corpo é tomado por uma sensação estranha. Sinto-me leve, como se estivesse flutuando, possuído por uma liberdade até então desconhecida, como se de repente não sentisse mais preocupações... Abro meus olhos e, para minha surpresa, já é dia. Terei imaginado tudo isso? Tudo não passou de um pesadelo? Olho para o monitor, meu trabalho está no ponto em que deixei antes de ir preparar o café pela primeira vez. Respiro aliviado e penso comigo mesmo: “foi um sonho e nada mais...”. Vou ao banheiro, tomo um a demorada ducha fria para ter certeza de que estou realmente acordado. Volto para o quarto. Avisto o monitor: pousado sobre ele está um enorme pássaro preto com brilhantes olhos amarelos e, logo abaixo, as palavras “nunca mais” se acumulam na tela...
1. DREAMS,
My spirit not awakening, till the beam
Of an Eternity should bring the morrow.
Yes! tho' that long dream were of hopeless sorrow,
'Twere better than the cold reality
Of waking life, to him whose heart must be,
And hath been still, upon the lovely earth,
A chaos of deep passion, from his birth.
Continuing- as dreams have been to me
In my young boyhood- should it thus be given,
'Twere folly still to hope for higher Heaven.
I' the summer sky, in dreams of living light
And loveliness,- have left my very heart
In climes of my imagining, apart
From mine own home, with beings that have been
Of mine own thought- what more could I have seen?
From my remembrance shall not pass- some power
Or spell had bound me- 'twas the chilly wind
Came o'er me in the night, and left behind
Its image on my spirit- or the moon
Shone on my slumbers in her lofty noon
Too coldly- or the stars- howe'er it was
That dream was as that night-wind- let it pass.
Dreams! in their vivid coloring of life,
As in that fleeting, shadowy, misty strife
Of semblance with reality, which brings
To the delirious eye, more lovely things
Of Paradise and Love- and all our own!
As others were--I have not seen
As others saw--I could not bring
My passions from a common spring. From the same source I have not taken
My sorrow; I could not awaken
My heart to joy at the same tone;
And all I lov'd, I lov'd alone. Then--in my childhood--in the dawn
From ev'ry depth of good and ill
The mystery which binds me still:
From the torrent, or the fountain,
From the red cliff of the mountain,
From the sun that 'round me roll'd In its autumn tint of gold--
From the lightning in the sky
As it passed me flying by--
From the thunder and the storm,
And the cloud that took the form
(When the rest Heaven was blue)
Of a demon in my view.
Campo, chinês e sono
A João Cabral de Melo Neto
O chinês deitado
no campo. O campo é azul,
roxo também. O campo,
o mundo e todas as coisas
têm ar de um chinês
deitado e que dorme.
Como saber se está sonhando?
O sono é perfeito. Formigas
crescem, estrelas latejam,
peixes são fluidos.
E árvores dizem qualquer coisa
que não entendes. Há um chinês
dormindo no campo. Há um campo
cheio de sono e antigas confidências.
Debruça-te no ouvido, ouve o murmúrio
do sono em marcha. Ouve a terra, as nuvens.
O campo está dormindo e forma um chinês
de suave rosto inclinado
no vão do tempo.
domingo, 20 de janeiro de 2013
Del amor navegante
Porque no está el Amado en el Amante
Ni el Amante reposa en el Amado,
Tiende Amor su velamen castigado
Y afronta el ceño de la mar tonante.
Llora el Amor en su navío errante
Y a la tormenta libra su cuidado,
Porque son dos: Amante desterrado
Y Amado con perfil de navegante.
Si fuesen uno, Amor, no existiría
Ni llanto ni bajel ni lejanía,
Sino la beatitud de la azucena.
¡Oh amor sin remo, en la Unidad gozosa!
¡Oh círculo apretado de la rosa!
Con el número Dos nace la pena.
Do amor navegante
Porque não está o Amado no Amante
Nem o Amante repousa no Amado,
Estende o Amor suas velas castigadas
E afronta a face do mar trovejante.
Chora o Amor em seu navio errante
E à tormenta livra seu cuidado,
Porque são dois: Amante desterrado
E Amado com perfil de navegante.
Se fossem um, Amor, não existiria
Nem pranto nem navio nem distância
Apenas a beatitude da açucena.
Ó amor sem remo, na Unidade gozosa!
Ó círculo apertado da rosa!
Com o número Dois nasce a pena.
terça-feira, 1 de janeiro de 2013
Final Del Año
Jorge Luís Borges
Ni el pormenor simbólico
de reemplazar un tres por un dos
ni esa metáfora baldía
que convoca un lapso que muere y otro que surge
ni el cumplimiento de un proceso astronómico
aturden y socavan
la altiplanicie de esta noche
y nos obligan a esperar
las doce irreparables campanadas.
La causa verdadera
es la sospecha general y borrosa
del enigma del Tiempo;
es el asombro ante el milagro
de que a despecho de infinitos azares,
de que a despecho de que somos
las gotas del río de Heráclito,
perdure algo en nosotros:
inmóvil.
Final do ano
Nem o pormenor simbólico
de substituir um dois por um três
nem essa metáfora baldia
que convoca um lapso que morre e outro que surge
nem o cumprimento de um processo astronômico
aturdem e minam
o planalto desta noite
e nos obrigam a esperar
as doze irreparáveis badaladas.
A causa verdadeira
é a suspeita geral e apagadora
do enigma do Tempo;
é o assombro ante o milagre
de que a despeito de infinitos azares,
de que a despeito de que somos
as gotas do rio Heráclito,
perdure algo em nós:
imóvel.
domingo, 16 de setembro de 2012
For my father
Paul Potts
I think a time will come when you will understand
That I wass forced to try and fly and learn to sing
And the because I fell, echoless, between dark rocks
Is of itself no proof that if I had not run away
I would have grown strong and added to
The long tradition of you and your quiet sires.
Remember too, that this emigrating is of itself
Part of your own long silent heritage.
Else, how sir, did you come to be American?
Acho que chegará o momento em que você vai entender
que fui forçado a tentar e voar e a aprender a cantar
e porque caí, sem eco, entre rochas escuras
não é por si prova de que se eu não tivesse fugido
teria crescido forte e contribuído para
a sua longa tradição e aos seus discretos progenitores.
Lembre-se, também, de que esta emigração é ela mesma
parte de sua longa herança.
De que outro modo, então, o senhor chegou a ser americano?
Paul Potts. Poeta inglês (1911-1990). Confira uma belíssima tradução ao espanhol em "La Biblioteca de Marcelo Leites"
À espera dos bárbaros
Constantino Kaváfis (1863-1933) O que esperamos na ágora reunidos? É que os bárbaros chegam hoje. Por que tanta apatia no senado? Os s...
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Luís Fernando Veríssimo Eu queria, senhora, ser o seu armário e guardar os seus tesouros como um corsário Que coisa louca: ser seu guarda-ro...
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Carlos Drummond de Andrade Paulo tinha fama de mentiroso. Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões-da-independência cusp...
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As vezes me perguntam de onde tirei o nome desse blog. Como a explicação foi dada apenas no início dos tempos, no longíquo ano de 2004, e t...